A Marinha do Brasil faz nesta terça-feira, 17, a cerimônia de batimento de quilha do primeiro navio polar construído no Brasil. O evento, que marca oficialmente o início da construção da embarcação, ocorrerá em Aracruz (ES) e terá a presença no ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
Com custo aproximado de 692 milhões de reais, o navio polar Almirante Saldanha será construído pelo estaleiro Jurong Aracruz e foi projetado para substituir uma das duas embarcações do tipo em atividade hoje, com previsão para operar a partir de outubro de 2025. Segundo a Marinha, o navio será equipado com uma das mais avançadas tecnologias quebra-gelo do mundo e representa um forte avanço para as missões brasileiras de exploração e pesquisa científica na Antártida.
“O Almirante Saldanha terá capacidade para quebrar camadas glaciais comaté um metro de espessura e menos de um ano de formação, além de propiciar manobras mais eficientes, melhor aproveitamento do combustível e maior agilidade na carga e descarga de equipamentos nas missões antárticas”, explica o contra-almirante André Novis Montenegro, coordenador de Implantação de Programas da Marinha. O navio ainda transportará dois helicópteros AirBus-25 recém-adquiridos pelas Forças Armadas, que podem carregar cerca de uma tonelada e meia cada e têm autonomia de voo superior a 600 quilômetros.
Ainda de acordo com oficiais da Marinha, o investimento no navio polar indica uma valorização pelo governo do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), projeto que existe há mais de quatro décadas e, além de consolidar a participação do Brasil no Tratado da Antártida como membro com poder de veto, viabiliza as pesquisas científicas nacionais no continente gelado. “Cabe a nós oferecer apoio e suporte logístico às atividades conduzidas pelo governo na Antártida, incluindo navios, helicópteros, médicos e mergulhadores”, diz o Capitão de Mar e Guerra Marcelo Gomes, assessor do Proantar.
Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), os estudos conduzidos na Antártica contribuem para prever a ocorrência de eventos climáticos extremos no Brasil. “Pesquisas brasileiras comprovam que fenômenos na Antártica influenciam as chuvas na Amazônia, e que as correntes marítimas na Antártida impactam diretamente os recursos no nosso litoral”, explica a coordenadora de Mar e Antártica do MCTI, Andrea Cruz-Kaled.
Outros avanços científicos, segundo Cruz-Kaled, envolvem a descoberta de substâncias no continente gelado com potencial de uso na medicina e agricultura. “A Antártica tem uma comunidade biológica diversa com adaptações evolutivas particulares — nos fungos e plantas, já foram identificadas moléculas que podem ser utilizadas como pesticidas naturais e filtros solares, por exemplo”, comenta.