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Mães criam abrigo para até cem crianças autistas em meio à tragédia no RS

Espaço adaptado em Porto Alegre oferece acolhida e terapias específicas para famílias atípicas que perderam suas casas

Por Adriana Ferraz Atualizado em 20 Maio 2024, 16h53 - Publicado em 20 Maio 2024, 10h12
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  • Apesar de classificado como um transtorno de espectro amplo, que torna um paciente completamente diferente do outro, algumas características são comuns a quem tem o diagnóstico de autismo, entre elas a necessidade de se manter uma rotina organizada. Quando se trata de crianças, a recomendação é ainda mais importante, juntamente com intervenções precoces e multidisciplinares. Mas como seguir a recomendação em meio ao caos de uma tragédia climática como a do Rio Grande do Sul, que forçou as pessoas a deixarem suas casas do dia para a noite? A pergunta, inicialmente sem resposta, fez duas amigas, ambas com filhos autistas, saírem atrás de doações para abrir o primeiro abrigo exclusivo para quem tem TEA.

    Fundadoras do Instituto Colo de Mãe, Roberta Vargas e Debora Saueressig foram acolhidas inicialmente em um colégio de freiras de Porto Alegre, que aceitou receber de dez a doze crianças juntamente com suas famílias. “Na primeira noite o espaço já lotou e tivemos de seguir na busca. Conseguimos, então, abrigo em uma academia de crossfit. Lá, pudemos montar uma estrutura bacana, onde profissionais voluntários oferecem acolhida especializada”, conta Roberta. A notícia logo se espalhou e mobilizou parentes de autistas em todo o país, que começaram a enviar doações e auxiliar com recursos financeiros. 

    A corrente foi reforçada pelo apresentador da TV Globo Marcos Mion, que tem um filho autista e visitou o abrigo na quarta, 15. “Cheguei na tragédia e encontrei amor. Conheci heróis com força daquelas que ninguém sabe que tem até precisar”, escreveu Mion. A demanda por acolhimento especializado levou Roberta, Debora e mais uma legião de voluntários atrás de um espaço maior e permanente.

    “Conseguimos um prédio de seis andares, mas, por ser um prédio comercial, tivemos de fazer uma série de adaptações, como colocar redes de proteção nas escolas, e reservar andares inteiros para terapias, espaço kids, triagem e sala de medicação, por exemplo. O plano é ajudar essas famílias nesse período mais crítico e ao mesmo tempo capacitar os adultos para voltarem o mais rápido possível ao trabalho”, conta Roberta. A expectativa é receber ali cerca de cem crianças e suas famílias por até seis meses.

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    Roberta explica que todo o esforço tem o objetivo de amenizar os impactos da tragédia no dia a dia dos autistas, que tendem a sofrer com ambientes cheios de estímulos, como sons altos, luzes e muita gente. Parte das crianças atendidas precisou ser salva em resgates feitos por barcos, o que já representou um desafio enorme aos familiares que depois ainda foram encaminhados a abrigos lotados e sem nenhum controle de barulho, entre outras dificuldades.

    Desde o início das enchentes, 839 abrigos públicos e privados foram abertos para atender mais de 77.000 pessoas que perderam suas casas nas cheias. Alguns atendem milhares de pessoas, caso do abrigo montado no campus da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, que atende hoje 6.000, sendo o maior do estado. Por lá, voluntários também tentam, dentro do possível, reduzir os riscos de crises entre crianças autistas com a oferta de abafadores de ruídos e brinquedos sensoriais, que ajudam a acalmá-las.

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    Líderes de um grupo de apoio a familiares de autistas, Roberta e Debora já se dedicavam a melhorar a qualidade de vida de quem tem o diagnóstico, mas agora o trabalho ganhou novas e enormes proporções. E o alerta delas já faz escola. O governo de Eduardo Leite (PSDB) passou a orientar voluntários e profissionais de educação, assistência social e saúde que estão atuando nos abrigos para realizarem o manejo mais adequado com autistas, que têm prioridade no atendimento.  

    “Para os autistas, a mudança da rotina e o aumento dos estímulos causados por sirenes, ambulâncias, aviões e helicópteros podem causar crises de choro, gritos, xingamentos, agressividade e autoagressão. Movimentos repetitivos e tremores também podem aumentar”, ressalta material produzido pelo governo. “Durante a permanência no abrigo é importante criar momentos de interação com atividades divertidas, com jogos e brincadeiras.”

    Abrigos mais estruturados, como o da Ulbra e o aberto no campus da PUC-RS, em Porto Alegre, também passaram a oferecer alimentação específica para crianças com restrições alimentares em função do autismo.

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