O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano e um dos auxiliares mais próximos do papa Francisco, se encontraram nesta segunda-feira, 8, no Palácio do Planalto, em Brasília. Os três principais temas tratados na reunião foram, segundo o governo federal, a situação dos indígenas,a questão da fome e a necessidade de defender a liberdade religiosa.
Segundo a Presidência da República, Lula ressaltou seus esforços, inclusive no âmbito da presidência brasileira do G20, o grupo das nações mais ricas do mundo, para a mobilização internacional em torno da superação da desigualdade em todas as suas formas, sobretudo econômica, agenda sobre a qual o petista diz ter conversado pessoalmente com o papa. “Um mundo que produz a quantidade de alimentos que produz não pode ter gente passando fome”, afirmou o presidente.
Lula também elogiou Francisco por seus posicionamentos contra as guerras e a desigualdade no mundo. O petista e o cardeal também concordaram sobre a importância de os governos garantirem a liberdade religiosa.
Indígenas
Parolin citou ainda o interesse da Santa Sé sobre a situação dos povos indígenas, em especial o Yanomami. Lula citou a criação do Ministério dos Povos Indígenas, o fato de a Funai ser presidida por uma indígena (Joenia Wapichana) e a política do atual governo de acelerar a demarcação de terras. Ressalvou, no entanto, as dificuldades que tem enfrentado no combate ao garimpo ilegal em terras indígenas e disse que os invasores são ligados a organizações criminosas, “hoje uma indústria internacional”. “No que depender do nosso governo, os povos indígenas terão o melhor tratamento possível”, afirmou o presidente.
O povo ianomâmi é uma das grandes preocupações do Vaticano e de boa parte da comunidade internacional. Em fevereiro de 2023, quando imagens de indígenas desnutridos e doentes em Roraima circularam pelo mundo, o papa Francisco enviou um representante à Terra Indígena Yaonomami — o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner — para acompanhar a crise humanitária in loco.
Participaram também da reunião de Lula com o cardeal a primeira-dama Janja da Silva e o embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência, além de integrantes da comitiva do Vaticano.
Deus, fé e milagres
Pressionado por pesquisas de opinião a se aproximar do segmento religioso, Lula usou a fé como fio condutor de seu discurso na quinta-feira, 4, em Arcoverde (PE), durante a inauguração de uma adutora da transposição do Rio São Francisco. O tom do discurso casa com o mote “fé no Brasil” adotado pelo Palácio do Planalto como estratégia de se aproximar principalmente do eleitor evangélico, grupo que tem puxado para cima a rejeição ao governo.
Ao falar para o povo sertanejo, Lula disse diversas vezes que a obra, que promete levar água a milhões de pessoas no agreste pernambucano, é fruto do milagre de Deus e da fé do povo. “Eu quero perguntar se vocês acreditam em Deus”, disse Lula logo na abertura do discurso. Diante da resposta positiva, continuou: “Quero perguntar se vocês acreditam em milagres”. Com um novo “sim”, Lula emendou uma narrativa que utilizou as palavras “Deus”, “fé” e “milagre” como ideias centrais.