Se a aliança entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (sem partido, ex-PSDB) ainda é incerta, é certo que o jantar oferecido no domingo, 19, pelo grupo de advogados Prerrogativas foi sucesso de marketing nas redes sociais. O evento, realizado num restaurante de São Paulo, marcou a primeira aparição pública dos dois antigos adversários juntos. Em 48 horas, o jantar gerou mais de 48 000 menções no Twitter – metade do que o assunto tinha alcançado entre 1º de novembro e 17 de dezembro (97 000 tuítes), período de 46 dias em que a união parecia mera especulação.
Segundo levantamento da FGV-DAPP (Diretoria de Análise de Políticas Públicas), quase 40% das interações na plataforma entre a tarde de sábado, 18, e esta terça-feira, 21, foram em apoio à aliança, envolvendo perfis considerados progressistas e simpáticos à candidatura de Lula. O apoio é maior no grupo formado por “neopetistas”, perfis com menos história com o partido que ganharam espaço no debate em relação aos militantes antigos do PT – que ficaram um tanto desconfortáveis com a aproximação com o ex-tucano. Destacaram-se publicações que enalteceram a heterogeneidade das lideranças políticas presentes, na tentativa de construir a ideia de uma frente ampla contra a extrema-direita autoritária.
Já do lado do governo de Jair Bolsonaro (PL), o estudo da FGV-DAPP chama a atenção para o silêncio de figuras institucionais que tinham sido muito atuantes no período em que a união não passava de um rumor, como parlamentares bolsonaristas. As interações negativas vindas de apoiadores de Bolsonaro representaram quase 30% dos tuítes no período analisado. O argumento principal desse pessoal foi que Lula e Alckmin sempre foram faces da mesma moeda e que, até Bolsonaro, o país foi governado por um mesmo grupo político. Assim, o jantar reforçou o discurso bolsonarista antissistema.
Mas as críticas à possível aliança Lula-Alckmin, com vistas à eleição presidencial de 2022, não ficaram restritas à direita. Na esquerda, principalmente os apoiadores do presidenciável Ciro Gomes (PDT) falaram mal da facilidade com que petistas abraçaram Geraldo Alckmin e destacaram a diferença de projetos entre o ex-tucano e o petista. As interações críticas à aliança entre os dois, feitas por perfis de esquerda, chegaram a 23,5%.
“A junção entre a maior coesão no grupo pró-Lula e o crescimento da hostilidade em opositores de centro-esquerda e extrema-direita sugere que a possível chapa afeta o jogo político de modo significativo e parece aumentar a adesão de outros campos à candidatura do ex-presidente Lula”, afirma a FGV-DAPP. Veja os dados detalhados abaixo.
INTERAÇÕES POSITIVAS – 39,33%
23,87%
Interações feitas pelo maior grupo, formado por perfis de influenciadores alinhados à esquerda e apoiadores da candidatura de Lula, repercutiram o jantar do Prerrogativas dando destaque para a heterogeneidade das lideranças políticas presentes, como João Campos (PSB), Arthur Virgílio (PSDB), Rodrigo Maia (Sem Partido), Randolfe Rodrigues (REDE), Gilberto Kassab (PSD) e Baleia Rossi (MDB)
9,18%
Grupo formado majoritariamente por perfis de veículos da imprensa, que publicaram notícias e fotos do jantar. O coordenador do Prerrogativas, o advogado Marco Aurélio Carvalho, obteve grande espaço na mídia e demarcou as fronteiras políticas do evento, como o distanciamento de João Doria (PSDB) e Sergio Moro (Podemos) e a abertura ao diálogo com nomes de diferentes espectros políticos
6,28%
Grupo de influenciadores progressistas que demonstraram apoio à possível aliança Lula-Alckmin e criticaram o comportamento de militantes de esquerda contrários à sua realização. Nas principais publicações, defenderam a urgência de se derrotar Jair Bolsonaro (PL)
INTERAÇÕES NEGATIVAS (DIREITA) – 29,96%
16,13%
Interações de grupo de perfis de apoio a Jair Bolsonaro (PL) foram marcadas por duas linhas argumentativas principais: a primeira utilizou a aproximação de Lula e Alckmin para reforçar a ideia de que o PSDB e o PT sempre estiveram no mesmo campo político. A segunda buscou mostrar que o atual presidente não está preocupado com os movimentos de Lula e Alckmin e dos políticos que prestigiaram o evento
10,08%
Conjunto formado por influenciadores apoiadores do governo federal. Após semanas de especulações e tentativas de diminuir a força política da possível chapa Lula-Alckmin, suas interações repercutiram o jantar dando destaque ao argumento de que o PSDB e o PT fizeram parte, desde sempre, do mesmo espectro político e que o Brasil, antes de Bolsonaro, foi governado por um único grupo. Entre os principais tuítes há a tentativa de associar a presença do senador Omar Aziz (PSD-AM) no jantar à suposta interferência petista na CPI da Pandemia
3,75%
Último grupo formado por apoiadores de Bolsonaro, suas principais publicações demonstram indignação com a aproximação entre Lula e Alckmin e acusam a imprensa de suposta conivência
INTERAÇÕES NEGATIVAS (ESQUERDA) – 23,54%
12,27%
Interações do conjunto formado por perfis críticos ao comportamento da militância petista focaram na suposta incoerência no apoio à chapa Lula-Alckmin após anos de disputa e discordância política entre os dois. Membros desse grupo se alinham à candidatura de Ciro Gomes (PDT) e buscam desqualificar a possível chapa demonstrando as incongruências entre os projetos de Lula e Alckmin
11,27%
Grupo que se divide em relação à possível aliança Lula-Alckmin orbitou em torno do registro de um encontro entre o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) e Alckmin na manhã do domingo. Um tuíte de Freixo obteve alto volume de engajamento e concentrou o conflito entre os que apoiam e rejeitam a possível aliança. Entre os perfis que discordam da aliança, destacam-se menções a críticas feitas por Guilherme Boulos (PSOL) a Geraldo Alckmin que foram compartilhadas pelo próprio Freixo. Boulos, portanto, destoa do apoio declarado por parte das lideranças jovens de esquerda ligadas a partidos próximos ao PT
PERFIS DIVERSOS – 7,17%