Irmão de Celso Daniel será candidato a vice do PT em Santo André
Bruno Daniel (PSOL) já acusou o partido em outras ocasiões de dificultar que fosse investigada a tese de que a morte do irmão em 2022 foi um crime político
O professor universitário Bruno Daniel (PSOL), irmão mais novo do ex-prefeito Celso Daniel, será candidato a vice-prefeito na chapa para a prefeitura de Santo André encabeçada pela ex-vereadora Bete Siraque (PT).
Celso Daniel foi um dos fundadores do PT em 1980 e um de seus principais expoentes, além de prefeito de Santo André entre 1997 e 2002, quando foi sequestrado e morto a tiros — o seu corpo foi encontrado em Juquitiba, na Grande São Paulo. A investigação da Polícia Civil e do Ministério Público concluiu que ele foi vítima de uma quadrilha de criminosos que atuava na zona sul de São Paulo.
A conclusão da investigação, no entanto, foi questionada por familiares, inclusive o próprio Bruno Daniel, que dizia que o crime teve motivação política. Em entrevista à Rádio Eldorado, em 2016, por exemplo, ele chegou a dizer que o PT havia evitado que a investigação avançasse nesse sentido. “O partido fez tudo o que era possível e imaginável para reforçar a tese da polícia, segundo a qual o crime seria um crime comum. Isso foi feito por inúmeros estratagemas. Por que razão o Partido dos Trabalhadores, com pouquíssimas exceções, se portou desse jeito?”, questionou à época. Ele já havia feito a mesma acusação durante depoimento à CPI dos Bingos, em 2005.
Em delação premiada, o publicitário Marcos Valério, que fez campanhas para o PT e foi condenado e preso no episódio do Mensalão, também acusou o partido de envolvimento no crime – acusação que a legenda sempre negou e que nunca foi corroborada por nenhuma investigação oficial.
A tentativa de atribuir culpa ao PT no episódio é reavivada até hoje pelo bolsonarismo, que, com frequência, volta a levantar dúvidas sobre os verdadeiros autores e motivação do assassinato – a última vez em que puseram o nome de Celso Daniel entre os assuntos mais comentados no X, algo que também ocorre com frequência, foi no último final de semana, na esteira do atentado contra o ex-presidente americano Donald Trump.
Eleição em Santo André
Bruno Daniel tentou disputar a prefeitura de Santo André em 2020, mas chegou em terceiro lugar com apenas 7,2% dos votos, atrás da própria Bete Siraque, hoje sua companheira de chapa (que ficou com 7,3%) e do prefeito Paulo Serra (PSD), que foi reeleito no primeiro turno, com 76,9%.
A vitória de Serra na eleição de 2016 encerrou um longo revezamento entre PT e PTB no comando da prefeitura da segunda maior cidade do ABC. Desde 1983, em oito gestões, cinco mandatos foram petistas (com Celso Daniel, João Avamileno e Carlos Grana) e três dos trabalhistas (Newton Brandão e Aidan Ravin). Em 2016, o então prefeito do PT, Carlos Grana, tentou um novo mandato, mas foi derrotado pelo tucano.
Levantamento feito entre os dias 6 e 11 de julho pelo instituto Paraná Pesquisas mostra que a corrida pela prefeitura na cidade, a quinta maior de São Paulo, tem nas primeiras posições o ex-secretário municipal de Saúde Gilvan Júnior (PSDB), que aparece com 22,4% das intenções de voto, e o vereador Eduardo Leite (PSB), com 16,9% – eles estão empatados dentro da margem de erro de 3,8 pontos percentuais para mais ou para menos. A petista Bete Siraque (PT), com 15,2%, está empatada tecnicamente com Leite e também com o vice-prefeito Luiz Zacarias (PL), que tem 14,5%.
‘Celso era um político visionário’
Durante o anúncio da aliança na última quinta-feira, 11, Bruno Daniel lembrou da gestão do irmão à frente da prefeitura. “Há um legado que precisa ser recuperado por muitos que batalharam em governos que eram para inclusão, eram para reduzir desigualdades, que eram, já há muitos anos, para tratar da questão ambiental”, disse. “O Celso era um político visionário. Havia um conjunto de pessoas que trabalhavam com ele e que eram muitos competentes. A gente precisa resgatar tudo isso”, relembrou.
Segundo ele, a aliança com o PT e com outros partidos de esquerda, como Rede, PCdoB e PV, era necessária em razão do momento político atual. “O protagonismo é desse conjunto de forças, que entendeu o momento que estamos vivendo, que é necessário trabalhar juntos, que é preciso pensar a cidade coletivamente, que é preciso pensar em todos, mas particularmente nos mais pobres”, afirmou.