Invasão hacker que pode levar Zambelli à prisão foi revelada por VEJA
Em 2023, Walter Delgatti Neto contou como foi contratado pela parlamentar para tentar violar dispositivos e mostrar que era possível fraudar as eleições

Por unanimidade, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal condenou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto à prisão por invadir os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A decisão foi divulgada na última quarta-feira, 14, mais de dois anos após VEJA revelar detalhes da criminosa parceria entre a parlamentar e o programador.
Zambelli foi sentenciada a dez anos de prisão e à perda do mandato parlamentar, que ainda precisa ser referendado pela Câmara dos Deputados, enquanto Delgatti pegará oito anos e três meses de cadeia. O julgamento ocorreu de forma virtual e ainda cabem recursos dos réus.
Em matéria publicada em 6 de fevereiro de 2023, o próprio Delgatti relatou ao repórter Reynaldo Turollo Jr. que Zambelli o havia procurado em 2022, antes das eleições presidenciais, e questionado se conseguiria detectar falhas de segurança nas urnas eletrônicas. Segundo o hacker, a parlamentar articulou reuniões entre a dupla e o então presidente Jair Bolsonaro para discutir a possibilidade de violar os dispositivos e usar as brechas para invalidar o resultado eleitoral, caso o capitão fosse derrotado.
Veja parte da conversa do hacker com a reportagem:
Ao menos dois encontros entre Zambelli, Delgatti e Bolsonaro ocorreram naquele ano. O primeiro deles, realizado em agosto, também foi revelado com exclusividade por VEJA, que flagrou o hacker entrando e saindo do Palácio do Alvorada, em Brasília. A segunda reunião ocorreu em setembro, também no Alvorada — segundo Delgatti, o presidente lhe teria pedido que assumisse a autoria de um grampo ilegal que seria implantado nas comunicações do ministro Alexandre de Moraes, do STF, à época presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
‘Publique-se e faz o L’, escreveu Zambelli em falsa ordem de prisão contra Moraes
Outro episódio também mostrou à época que o hacker esteve todo o tempo a serviço do bolsonarismo golpista. No início de janeiro de 2023, veículos de imprensa noticiaram que alguém entrou nos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e expediu um falso mandado de prisão assinado por Moraes contra ele mesmo. O texto que constava do documento falso deixa claro que ele foi escrito por um típico bolsonarista.
Foi esse caso que resultou na condenação de Carla Zambelli e Walter Delgatti, contudo, foi a invasão dos computadores do CNJ, realizada em janeiro de 2023. Durante a empreitada, a dupla “plantou” um mandado de prisão forjado contra Alexandre de Moraes que trazia a assinatura do próprio ministro.
“Sem me explicar, porque sou como um deus do Olimpo, defiro a petição inicial. […] Publique-se, intime-se e faz o L”, dizia a falsa ordem de prisão introduzida por Delgatti no sistema do CNJ. O texto também fazia menções a uma “vontade extraordinária de ver Lula na presidência” e afirmações como “o Estado somente EU”.
Em depoimento à Polícia Federal, Delgatti assumiu que foi dele a ideia de implantar o mandado falso como forma de demonstrar a fragilidade da segurança cibernética do Judiciário. O hacker, porém, declarou que recebeu o texto pronto de Zambelli e limitou-se a fazer “algumas correções gramaticais”.