A Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs), que desenvolveu o aplicativo que está no centro da discórdia das prévias presidenciais do PSDB, já teve um contrato milionário com uma estatal do governo do Rio Grande do Sul na gestão de Eduardo Leite, um dos concorrentes na eleição interna tucana. Leite polariza a disputa com o governador de São Paulo, João Doria.
Entre outubro de 2020 e outubro de 2021, a Faurgs recebeu 5,96 milhões de reais do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), cujo maior acionista é o governo gaúcho, para “prestação de serviços de análise, arquitetura, programação e testes de software de produtos e aplicativos e serviços especialistas em novas tecnologias”. O contrato foi assinado por Cláudio Coutinho Mendes, presidente do Banrisul indicado ao cargo por Leite (veja abaixo, clique para aumentar).
Por meio de nota, a fundação afirma que “o contrato com o Banrisul foi firmado por meio de edital público, em 2020, ainda na gestão anterior da FAURGS” e que “serviços são prestados para a instituição financeira há mais de duas décadas, todos dentro das regras públicas vigentes, sem qualquer irregularidade verificada”.
O Banrisul, também por meio de nota, diz que a Faurgs “é fornecedora do banco há mais de 20 anos, via processo licitatório, com serviço aferido por pelo menos cinco diferentes gestões da instituição”. “Nossas áreas técnicas atestam que os mesmos foram entregues com qualidade e segurança, ao lado dos demais fornecedores em TI contratados pelo banco”.
A votação das prévias do PSDB havia sido iniciada e interrompida no domingo, 21, diante de problemas no aplicativo criado pela Faurgs, que registra os votos de filiados em geral, vereadores e dos quadros da sigla que não viajaram a Brasília, onde urnas eletrônicas receberam votos de políticos tucanos.
O PSDB afirmou ontem que aguardaria até o final da manhã desta terça-feira, 23, por “garantias concretas” da Faurgs a respeito da “viabilidade e robustez” do sistema. Esse prazo se esgotou e agora o partido caminha para adotar “tecnologia privada para concluir o processo de prévias”. “Em qualquer alternativa, a integridade do processo eleitoral será rigorosamente observada”, afirmou a sigla. Ainda de acordo com o PSDB, os votos registrados neste domingo são válidos e serão computados.
Apesar das falhas do aplicativo da Faurgs, a campanha de Leite resistiu em aceitar o descarte desse app como ferramenta de votação das prévias. Para membros da campanha de Doria, a única razão para a resistência a estar altura é a de tentar postergar para 2022 a decisão — algo que, inclusive, já teria sido proposto há alguns dias pela campanha do gaúcho.
Membros do partido dizem não descartar que tenha havido algum ataque hacker ao aplicativo, suspeitas sem evidências concretas até agora. Parte dos problemas foi atribuída por alguns dos membros da comissão organizadora das prévias, como o senador José Aníbal (SP), à ferramenta de reconhecimento facial do sistema.