General preso era elo entre governo Bolsonaro e manifestantes, diz PF
Mauro Fernandes é apontado como autor do plano Punhal Verde Amarelo, que previa assassinar Lula, Alckmin e Moraes
Apontado como autor do plano Punhal Verde Amarelo, o general Mário Fernandes era o “ponto focal”, segundo a Polícia Federal, entre o governo então presidente Jair Bolsonaro e os manifestantes que se aglomeravam em frente ao Quartel do Exército em Brasília, de onde partiram as milhares de pessoas que invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023. O plano tinha o objetivo de matar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin, além do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, e instituir um golpe de estado no país.
“O contexto das mensagens evidenciam que MÁRIO FERNANDES era o ponto focal do governo de JAIR BOLSONARO com os manifestantes golpistas”, aponta a PF. “Além de receber informações, também servia como provedor material, financeiro e orientador dos manifestantes antidemocráticos instalados nas adjacências do QG-Ex em Brasília/DF, que teve papel fundamental na tentativa de golpe de Estado perpetrado dia 08/01/2023”, diz a corporação em relatório que fundamentou a operação deflagrada nesta terça-feira, 19, que resultou na prisão de Fernandes e outras quatro pessoas.
General do Exército, Fernandes integrou, como chefe substituto e interino, a Secretaria-Geral da Presidência entre 19 de outubro de 2020 e 31 de dezembro de 2022. O período coincide com as ações de monitoramento das atividades, localização e deslocamentos dos alvos e as ações para consumação do plano que previa manter Bolsonaro no poder mesmo após a derrota nas eleições. O militar também esteve lotado no gabinete do deputado federal general Eduardo Pazuello (PL-RJ) ex-ministro da Saúde de Bolsonaro.
Em relatório, a Polícia Federal aponta Fernandes como “um dos militares mais radicais que integrava o mencionado núcleo militar” do entorno de Bolsonaro. E descreve ações do militar para influenciar o então presidente a decidir pelo golpe.
Segundo a PF, o militar, “atuando em contexto de ampla capilaridade, promoveu ações de planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos”. Ainda de acordo com o relatório, o general “possuía influência sobre pessoas radicais acampadas no QG-Ex, inclusive com indicativos de que passava orientações de como proceder e, ainda fornecia suporte material e/ou financeiro para os turbadores antidemocráticos”.
A Polícia Federal juntou aos autos um HD externo em que consta um documento em Word denominado “Fox_2017.docx”, que continha “um verdadeiro planejamento com características terroristas, no qual constam descritos todos os dados necessários para a execução de uma operação de alto risco”.
O documento traz, em formato de tópicos, todo o planejamento de uma operação clandestina, com demandas de reconhecimento operacional, preparação e condução, com indicação dos recursos necessários, demandas de pessoal e condições de execução. As ações previam, por exemplo, o monitoramento do aparato de segurança utilizado por Alexandre de Moraes até a previsão de armas de alto poder de fogo que seriam utilizadas na operação: quatro pistolas, quatro fuzis, uma metralhadora e um lança granadas.