Em áudio, policial ofende Raoni e cita ‘dor de estômago’ com posse de Lula
Wladimir Soares, agente da PF que é réu no Supremo por tentativa de golpe, chamou a maior liderança indígena do país de "vagabundo que só pede dinheiro'

Áudios obtidos pela Polícia Federal no celular de um do acusados pela trama golpista, o agente da PF Wladimir Soares, que está preso desde novembro de 2024, revelam uma cadeia de ofensas a uma das maiores lideranças indígenas do país, o cacique Raoni Metuktire, 93 anos, chefe do povo Kayapó. No mesmo áudio em que o acusado diz que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes deveria ter a “cabeça cortada”, ele chama o cacique de “vagabundo que só pede dinheiro” e diz que ele “destruirá a Amazônia”.
No trecho, Soares está reclamando da cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 1º de janeiro de 2023. Ele diz que, ao ver a cena de mulheres, catadores de papel, indígenas e pessoas com deficiência subirem a rampa presidencial, sente “dor de estômago”. “Vamos para frente, é muito triste o que está acontecendo e o que virá. Vão destruir nossa Amazônia toda, baseado com aquele cacique Raoni, que é um vagabundo. Um vagabundo. Está cheio de dinheiro, só quer dinheiro aquele merda”, disse o agente da PF, acusado de tramar um golpe de estado com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Raoni Metuktire esteve com Lula no começo de abril, dias depois de receber a atriz hollywoodiana Angelina Jolie. No encontro com o petista, o líder indígena pediu ao governo que não explorasse petróleo na Foz do Amazonas, na altura do estado do Amapá, por conta de questões ambientais. O cacique é uma das vozes mais ativas do país na luta pela preservação do bioma e dos povos originários do país.
‘Matar meio mundo de gente’
No mesmo áudio em que critica, sem fundamentos, o líder indígena, Soares afirma que ele próprio e seus aliados iriam “matar meio mundo de gente “, mas que Bolsonaro “deu para trás”. “Fazemos parte de uma equipe de operações especiais que estava pronta para defender o presidente, com poder de fogo elevado. Esperávamos só o ok do presidente, uma canetada para agir, empurrar quem estivesse na frente”, disse o acusado.