O desempenho da economia, especialmente a geração de empregos, será o fator que mais pesará para o brasileiro na hora de definir o voto na eleição presidencial de 2022, segundo levantamento exclusivo do instituto Paraná Pesquisas, feito entre os dias 25 e 29 de junho de 2021.
A pedido de VEJA, o instituto pediu a cada entrevistado que apontasse, numa escala de 0 a 10, qual era a importância que daria a sete temas na hora de escolher o presidente da República. Geração de empregos (8,7) e recuperação da economia (8,6) foram os que tiveram as médias mais altas. As mortes na pandemia, que já somam mais de 530.000, ficaram em último (veja quadro abaixo).
É nisso que aposta o presidente Jair Bolsonaro, que vê a sua popularidade derreter em meio à crise sanitária e política que atravessa – segundo pesquisa CNT/MDA divulgada na última segunda-feira, 48% consideram o seu governo ruim ou péssimo, a pior avaliação de um presidente eleito em ano pré-eleitoral desde a redemocratização do país, como mostrou reportagem publicada na edição de VEJA desta semana.
Mesmo com exageros populistas e crises no mercado provocadas pelas constantes atitudes intempestivas do presidente, a aposta do Palácio do Planalto é que as engrenagens de crescimento do país estarão funcionando bem melhor no ano da campanha à reeleição. Alguns indicadores econômicos corroboram realmente a ideia de que o pior já passou, a exemplo da evolução do PIB acima do esperado no primeiro trimestre (1,2%).
Mas ainda assim é preciso que o bolsonarismo tenha cuidado no otimismo excessivo com uma virada na situação para 2022 ancorada na retomada econômica e no refluxo da pandemia. Apesar dos sinais que apontam fortemente no sentido de uma recuperação, com projeções do mercado financeiro para um crescimento de até 5% em 2021, ela pode não ter o efeito esperado pelo Palácio do Planalto caso a inflação siga acelerando e afetando o poder de compra do brasileiro. O acumulado do IPCA nos doze meses encerrados em junho foi de 8,35%, ante uma meta de 3,75% no ano. Esse risco pode ser agravado em razão da ameaça cada vez maior de uma crise hídrica, que levaria ao reajuste da tarifa de energia elétrica e à possibilidade de racionamento, e dos persistentes números ruins do desemprego, que hoje atinge 14,8 milhões de brasileiros, um recorde histórico.
Embora o número de mortos na pandemia e a velocidade na vacinação tenham tido as menores notas no levantamento do Paraná Pesquisas, o presidente também certamente se verá confrontado na campanha com suas responsabilidades pelo descalabro em meio à crise sanitária, além dos efeitos econômicos decorrentes da sua negligência com a imunização da população. “Alguns talvez enxerguem o mau comportamento em relação à gestão econômica da pandemia como decorrência da demora em comprar e distribuir vacinas”, diz o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas.
Para os líderes políticos que estão com Bolsonaro, a possibilidade de mudança no cenário eleitoral vai garantir uma boa performance eleitoral ao presidente em sua tentativa de reeleição. “Quem reelege presidente é a economia. Se as pessoas estiverem com o sentimento de que a vida está melhorando, com mais condições de comprar alimentos e de melhorar nível salarial, é muito difícil optarem por algo diferente”, aposta o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP e líder do Centrão, o bloco parlamentar que dá sustentação a Bolsonaro no Congresso. Mas, com tanta confusão e teimosia, um potencial desafio para Bolsonaro talvez seja mostrar que eventuais avanços do país foram conquistados pela sua liderança — e não apesar dela.