Do Planalto, Bolsonaro deu ‘curso prático’ de plano golpista, diz PGR
Transimissão ao vivo foi marco para ataques sistemáticos à urna eletrônica e às autoridades do Judiciário

Na denúncia sobre a tentativa de golpe de Estado, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro “deu curso prático ao plano de insurreição” em uma live golpista gravada dentro do Palácio do Planalto, em 29 de julho de 2021, e transmitida nos canais oficiais de Bolsonaro no Youtube.
Na transmissão ao vivo, Bolsonaro retomou críticas às urnas eletrônicas e “exaltou a atuação das Forças Armadas”. Segundo a denúncia, depois dessa live, uma série de entrevistas e pronunciamentos públicos do ex-presidente visavam potencializar a revolta e indignação de seus apoiadores com o objetivo de impedir “que o seu adversário político mais consistente triunfasse”, em referência ao atual mandatário Luiz Inácio Lula da Silva.
O plano era atacar e deslegitimar tanto o sistema eletrônico de votação como alguns dos personagens identificados pelo grupo como “inimigos”, como, por exemplo, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, atacado por Jair Bolsonaro no palanque montado para o dia 7 de setembro de 2021 na Avenida Paulista. O discurso infalamado no Dia da Independência, em que Bolsonaro diz que não obedeceria mais ordens judiciais, foi tratado pela PGR como um ato planejado.
“As investigações da Polícia Federal revelaram que o pronunciamento não era mero arroubo impensado e inconsequente”, diz Gonet na denúncia. “O grupo ao redor do Presidente houvera até mesmo traçado estratégia de atuação em prol do seu líder, incluindo plano de fuga do país, se porventura lhe faltasse o apoio armado com que contava”, acrescenta.
Segundo inquérito da Polícia Federal, em parte do inquérito que teve o sigilo quebrado em novembro do ano passado, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), à época diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi o responsável por subsidiar os documentos usados por Bolsonaro na live de de julho de 2021, apontada como o marco inicial do arrefecimento contra o sistema eleitoral e autoridades judiciárias. O documento de word que teria municiado o ex-presidente foi editado pelo e-mail pessoal de Ramagem dois dias antes da live. Essa evidência foi retomada pela PGR em denúncia apresentada nesta terça-feira, 18.
“A redação do documento, feita em primeira pessoa, não deixa dúvida de que ali se encontravam as orientações pessoais de Alexandre Ramagem ao então presidente da República Jair Messias Bolsonaro”, escreve Gonet. Segundo a Procuradoria-Geral da República, os argumentos apresentam “perfeita sintonia” com as diretrizes do general da reserva, e ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, Augusto Heleno.