Discussão sobre impeachment vai testar Aécio e ‘bolsonaristas’ do PSDB
Partido faz nesta quarta-feira debate sobre adesão ou não à tese de cassação do presidente; na Câmara, bancada votou a favor de 84% dos projetos do governo
A reunião da Executiva Nacional do PSDB na tarde desta quarta-feira, 8, convocada pelo presidente da sigla, Bruno Araújo, para discutir a adesão à proposta de impeachment de Jair Bolsonaro, na esteira dos atos antidemocráticos protagonizados pelo presidente no Dia da Independência, vai colocar em saia justa boa parte dos deputados do partido, como o ex-presidenciável Aécio Neves (MG).
Aécio não é defensor da tese do impeachment e acha que ela favorece um de seus adversários internos, o governador de São Paulo, João Doria, que já no dia 7 de setembro se manifestou pela primeira vez em favor do afastamento de Bolsonaro. Outro presidenciável do partido, o governador gaúcho Eduardo Leite foi na mesma trilha e também manifestou apoio à cassação. Em entrevista à CNN Brasil em julho deste ano, Aécio afirmou que impeachment é “algo traumático” e que a CPI da Pandemia deveria investigar o governo “sem paixões exageradas”.
Ocorre que boa parte da bancada tucana na Câmara, onde deveria tramitar um eventual pedido de impeachment, é bolsonarista – assumida ou não – e vota com o governo com uma frequência bastante alta: segundo monitoramento feito pela plataforma Radar do Congresso, o índice de governismo da bancada tucana é de 84% em uma amostra de 1.143 projetos analisados. Na bancada mineira do PSDB, esse índice sobe para 88%.
A posição do PSDB sobre o impeachment pode ajudar a diminuir a oposição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que continua disposto a não fazer tramitar nenhum dos mais 120 pedidos contra Bolsonaro que estão em suas mãos. Ontem ele não se manifestou sobre as declarações de Bolsonaro, que incluíram a promessa de desobedecer a decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e ameaças de ruptura institucional.
O PSDB tem 33 deputados e é a sétima maior bancada da Câmara. Outros partidos do mesmo tamanho e do mesmo espectro político, o MDB e o PSD, ambos com 34 parlamentares na Casa, também sinalizaram nos últimos dias que podem aderir à tese do impeachment, que até hoje só encontrava respaldo entre os partidos de esquerda.