O anúncio de regras mais rigorosas não foi suficiente para que a TV Cultura conseguisse manter um debate dentro dos parâmetros de civilidade entre os candidatos à prefeitura de São Paulo. Se no encontro da TV Gazeta, José Luiz Datena (PSDB) saiu do púlpito para confrontar Pablo Marçal (PRTB), neste domingo, 15, o tucano foi às vias de fato — provocado, ele agrediu o coach com uma cadeirada. O apresentador saiu do estúdio escoltado por duas viaturas da Polícia Militar, enquanto Marçal foi ao Hospital Sírio-Libanês para exames, pois a agressão teria atingido as costelas do candidato do PRTB.
Antes de sair do estúdio, Datena falou com a imprensa. O apresentador disse que recebeu uma mensagem de Marçal nos últimos dias. “Ele propunha que a coisa fosse civilizada, dentro de um processo democrático”, disse o apresentador, que também revelou um pedido do marqueteiro de Marçal, Wilson Pedroso, para agendar um café com Datena. O tucano teria respondido que não aceitaria conversar antes do debate. “Ele tem que provar que o nível desse debate vai ser um nível legal”, relatou Datena antes de sair dos estúdios. “Do mesmo jeito que eu choro como uma reação humana, essa foi uma reação humana que eu não pude conter”, afirmou. Ele disse que pretende se manter candidato mesmo após o episódio.
A troca de hostilidades já começou na primeira pergunta direta entre os concorrentes. Datena foi sorteado para fazer uma pergunta a Marçal, mas o tucano adotou a estratégia de “não dar palco” ao coach e não fez nenhuma pergunta. “A minha pergunta é o silêncio”, disse o apresentador após criticar o comportamento do oponente nos programas televisivos para produzir conteúdo para as redes sociais. Na resposta, Marçal acusou o tucano de ser estuprador. Ele relembrou uma denúncia de assédio sexual respondida pelo tucano, usando um trecho de uma música do grupo de rap Racionais MCs e um jargão comum entre presidiários que chamam estupradores de “Jack”. “Tem um candidato aqui que é Jack, e o nome dele é Datena”, disse Marçal. O tucano respondeu que a denunciante retirou a queixa e se retratou em cartório.
A agressão ocorreu no quarto bloco, quando Marçal e Datena voltaram a se confrontar e se provocaram novamente. “Você é um arregão. Você atravessou o debate esses dias para me dar um tapa, e falou que queria ter feito. Você não é homem nem para fazer isso”, disse Marçal segundos antes de Datena partir para cima do candidato do PRTB e o atingir com um golpe usando uma cadeira.
Em meio à confusão, com a entrada de seguranças no estúdio, o debate foi suspenso, e a emissora chamou o intervalo comercial. Na volta, o mediador do encontro, Leão Serva, anunciou que Datena, por infração grave, havia sido expulso do debate, e que Marçal também decidira se retirar por não estar se sentindo bem.
Ainda de acordo com o mediador, os quatro candidatos restantes — Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo) — decidiram continuar o debate.
“Dificuldade para respirar”
Em nota oficial, a assessoria de Pablo Marçal chamou o episódio de “lamentável acontecimento” e informou que o candidato foi levado de ambulância ao Hospital Sírio-Libanês para a realização de exames.
“É lamentável que o debate tenha continuado, mesmo sem a presença do candidato agredido. Pablo Marçal está ferido, com suspeita de fraturas na região torácica e muita dificuldade para respirar”, disse.
Ao saírem do debate, as campanhas adversárias relataram que Datena usou a cadeira de Marina Helena (Novo) na agressão, e a reação imediata de Marçal foi escalar o confronto. Conforme os relatos, ele teria subido os punhos em posição de briga, enquanto Datena tentou pegar outra cadeira, mas foi contido por Ricardo Nunes (MDB).
Os demais candidatos também afirmaram que o apresentador foi provocado fora dos microfones diversas vezes. Marçal teria dito, após a agressão, para o tucano: “Vou te colocar na cadeia”. Perguntado se o episódio era semelhante ao atentado contra o candidato à presidência norte-americana Donald Trump ou a facada contra Jair Bolsonaro em 2018, Guilherme Boulos (PSOL) disse que a cena deveria ser comparada com a bolinha de papel que atingiu José Serra em 2010.