O senador Renan Calheiros (MDB-AL) é um personagem que sabe os caminhos do poder em Brasília desde que a nova República foi instalada. Aos 34 anos, ele já era um dos principais articuladores da candidatura de Fernando Collor de Mello, que fez do ex-governador alagoano o primeiro presidente eleito pelo voto direto após o fim da ditadura militar.
Já deputado federal de segundo mandato, tornou-se líder de Collor na Câmara dos Deputados e foi um dos articuladores da aprovação do pacote de medidas conhecido como Plano Collor. Rompeu e deixou o governo em 1990 após ser derrotado na eleição para o governo de Alagoas.
Em 1994, já no MDB conquistou o primeiro dos seus quatro mandatos de senador. No Senado, foi o presidente também por quatro vezes, o que fez dele um dos principais caciques de Brasília. Nesse período, ainda foi ministro da Justiça do governo FHC entre 1998 e 1999.
Com Jair Bolsonaro (PL) na Presidência, Renan foi parar na oposição, teve que desistir de uma quinta eleição para a presidência do Senado por falta de perspectiva de vitória, mas continuou tendo protagonismo, principalmente como relator da CPI da Pandemia.
Agora, se prepara para voltar ao centro do poder, desta vez de mãos dadas com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de quem já foi aliado durante os anos do petismo no poder – mesmo com Dilma Rousseff, votou pelo impeachment, mas, como presidente do Senado, articulou para preservar os direitos políticos da ex-presidente.
Renan tem atuado nos bastidores para atrair apoios para a candidatura de Lula. Defensor entusiasmado da candidatura do petista, já procurou o ex-presidente Michel Temer e o ex-ministro Gilberto Kassab para tentar arrastar o MDB e o PSD para a aliança em torno de Lula ainda no primeiro turno.
Enquanto isso, centrou fogo na disputa particular que trava com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) em Alagoas, em torno da eleição para um mandato-tampão ao governo do estado até o final do ano. O resultado saiu neste domingo, 15, e o deputado estadual Paulo Dantas (MDB), candidato dos Calheiros a governador também na eleição direta de outubro, saiu vencedor confirmando o favoritismo. O cargo ficou vago desde que Renan Filho (MDB) renunciou para disputar o Senado – é favorito disparado para se juntar ao pai no Senado em 2023.
Como Alagoas não tem vice-governador – Luciano Barbosa renunciou para assumir a Prefeitura de Arapiraca – e o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (MDB), não quis assumir para não ficar inelegível para deputado, o estado fez então uma eleição indireta, apenas com os votos dos deputados estaduais, para escolher o governador-tampão. O grupo de Lira foi à Justiça, junto com o PSB, para barrar a eleição alegando irregularidades no processo e conseguiu uma liminar no Supremo Tribunal Federal adiando a votação, que estava prevista para 2 de maio. Renan diz que o único objetivo de Lira é atrasar a posse de Dantas, que a partir de julho, por conta da lei eleitoral, não poderá inaugurar obras feitas na gestão de Renan Filho.
Após o ministro Gilmar Mendes determinar mudanças nas regras e a retomada da votação indireta na Assembleia, o grupo de Lira recorreu novamente para barrar a eleição. O caso, no entanto, não chegou a ser julgado porque o ministro Nunes Marques pediu vista do processo e a eleição indireta para governador foi marcada para este domingo, 15, o que representou uma vitória para o grupo de Renan Calheiros.
Brasília 2023
Renan tem dito que vai lutar para que o Senado seja um contraponto à Câmara, que, em sua visão, teria se tornado bolsonarista sob o comando de Lira. Sua articulação em prol de Lula visa garantir poder na disputa que será travada no início de 2023, na renovação das direções da Câmara e do Senado.
O senador alagoano diz que não gostaria de ser de novo presidente do Senado, mas afirmou a VEJA que gostaria de ajudar Lula na articulação de seu governo, caso o petista seja eleito, o que poderia fazer também com um cargo de ministro. Quando questionado se gostaria de comandar um ministério, Renan desconversa, mas esse parece ser, por ora, o plano.
A única coisa certa é que o senador alagoano, se Lula vencer a eleição, estará de novo no centro do poder.