As agências de checagem de dados tiveram trabalho triplicado após a entrevista de Jair Bolsonaro no Jornal Nacional da segunda, 22. No quesito lorotas, aliás, o presidente estabeleceu um novo recorde, digno de causar inveja a Donald Trump, seu ídolo político. Segundo uma contabilidade, o capitão falou uma mentira a cada 3 minutos. O repertório também foi incrivelmente variado. Numa espécie de compêndio do caldo que mistura besteirol, teorias da conspiração, meias-verdades e mentiras cabeludas, Bolsonaro proferiu fabulações sobre a pandemia (“as pessoas se contaminaram mais ficando em casa”), sobre o STF (negou ter xingado ministros, sendo que chamou Alexandre de Moraes de “canalha”) e sobre as urnas eletrônicas (falou que auditoria do resultado de 2014 teria mostrado que elas são “inauditáveis”, outra inverdade), entre outras invenções.
O comportamento de mentiroso compulsivo de Bolsonaro tem um cálculo político. Segundo essa estratégia, as lorotas propagadas por ele funcionam para criar uma boa narrativa sobre temas importantes ao seu eleitorado mais fiel, sendo que essa narrativa não tem nada a ver com a verdade. “Ele tem uma grande capacidade de fornecer argumentos à sua militância para continuar defendendo a versão mais conveniente sobre os fatos em debate”, afirma o analista Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. “Muita gente não conseguiu entender até hoje essa lógica de narrativa com fins políticos.”