O Ministério Público do Rio de Janeiro deve receber no mês que vem todos os dados solicitados aos bancos após a Justiça autorizar a quebra de sigilo do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) — um ano depois da decisão judicial. O filho Zero Dois do presidente Jair Bolsonaro (PL) começou a ser investigado em 2019 por suspeitas de ter mantido funcionários-fantasmas em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio, que ganhavam salário sem trabalhar. No ano passado, a Promotoria pediu a quebra de sigilo dele, de assessores e familiares por suspeitar também de rachadinha — a prática de recolher parte dos salários dos servidores do gabinete, da qual o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também é suspeito.
Os bancos enviaram aos investigadores dados parciais das quebras de sigilo, que começaram a ser analisados pelos técnicos do Ministério Público, mas pediram prorrogação do prazo para conseguir fornecer a totalidade das informações, devido ao grande volume — são quase trinta pessoas em um período de tempo extenso (Carlos é vereador há mais de vinte anos). O prazo de noventa dias dado aos bancos termina em maio. A partir daí, serão feitas as análises e cruzamentos de informações, o que costuma levar mais alguns meses.
Enquanto isso, os investigadores fluminenses esperam que o Supremo Tribunal Federal finalmente defina se rachadinha é crime de peculato, como tem defendido o Ministério Público em outros casos pelo país. Até hoje, o STF não condenou nenhum político pela prática, e há dúvidas no meio jurídico quanto ao seu enquadramento. O julgamento que deve orientar o entendimento do Judiciário sobre a rachadinha envolve o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), mas tem sido sucessivamente adiado pelo Supremo. Já a investigação sobre o senador Flávio, referente à época em que ele foi deputado estadual no Rio, foi praticamente toda anulada pelo STF e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).