A defesa do delegado Rivaldo Barbosa, acusado pelo Ministério Público Federal de participação nos assassinatos da ex-vereadora do Rio Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2018, descarta a possibilidade de ele firmar acordo de colaboração premiada. “Acordo de delação pressupõe a confissão de crimes, e esta não é a intenção”, disse Felipe Dalleprane, que divide a defesa de Barbosa com o também advogado Marcelo Ferreira.
Segundo o defensor, Barbosa fez um apelo ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), para ser ouvido antes da fase de instrução do processo porque quer “esclarecer alguns pontos” relacionados à acusação da qual é alvo. Moraes atendeu ao pedido e determinou, nesta segunda-feira, 27, que a PF colha o depoimento dele na Penitenciária Federal de Brasília, onde o delegado está preso preventivamente desde 24 de março. A oitiva ainda não tem data marcada, mas deve ocorrer dentro de um prazo de cinco dias após a notificação.
O apelo do delegado a Moraes foi feito de forma inusitada. Quando recebeu de um oficial de Justiça uma intimação para assinar, Barbosa escreveu no documento um bilhete endereçado ao magistrado, suplicando para ser ouvido. “Ao excelentíssimo ministro, por misericórdia, solicito que V.Exa. faça os investigadores me ouvirem, pelo amor de Deus”, diz a mensagem, datada do último dia 20.
Dalleprane afirma que Barbosa ficou ansioso para ser ouvido depois de tomar conhecimento do teor da denúncia feita pelo Ministério Público Federal, que o acusa de participação no duplo homicídio. O documento foi enviado pela defesa por carta e só chegou às mãos do delegado nas últimas semanas, após quarentena de 20 dias e uma rigorosa triagem da instituição penal.
A defesa diz que Barbosa não quer fazer delação. “Está fora de cogitação”, disse Dalleprane. Segundo o advogado, Barbosa nega todas as imputações feitas contra ele e não pretende estabelecer nova autoria intelectual do crime. A intenção de falar, afirma, é para “esclarecer alguns pontos” relacionados estritamente às imputações feitas a ele. Na denúncia oferecida no início de maio, o Ministério Público Federal acusa Barbosa de participação no duplo homicídio.
Acusação
Segundo o MPF, Barbosa utilizou o cargo de chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, para o qual foi nomeado dias antes do crime, para acobertar as ações dos executores do duplo homicídio, que teria sido cometido a mando dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, que também estão presos. Marielle teria sido morta porque estaria atrapalhando os interesses do grupo criminoso em esquema de grilagem e loteamentos irregulares, segundo a acusação.
Barbosa aguarda a apreciação de um agravo regimental interposto pela sua defesa para saber se terá o pedido de relaxamento da prisão preventiva atendido. Para Dalleprane, a revelação do conteúdo da delação premiada feita pelo ex-policial militar Ronnie Lessa, no domingo, pode ajudar seu cliente por não estar sustentada em provas.