Bolsonarista, ex-fuzileiro assume defesa de viúva do miliciano Adriano
Márcio Archanjo Ferreira Duarte substitui o ex-senador Demóstenes Torres. Defensor também atua junto ao novo marido de Julia Mello Lotufo

Viúva do miliciano Adriano da Nóbrega e candidata a delatora das entranhas dos crimes do ex-marido, Julia Emília Mello Lotufo mudou de advogado. Saiu o ex-senador Demóstenes Torres, que atuou nas negociações com o Ministério Público pelas revelações dela, e entrou o advogado carioca Márcio Archanjo Ferreira Duarte. Ele acaba de ser habilitado como defensor em um recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra sua prisão preventiva. Como VEJA mostrou ontem, o ministro Reynaldo Fonseca negou o pedido e manteve Julia em prisão domiciliar.
Apresentado no LinkedIn como especializado na área de importação e exportação, Duarte advoga para a empresa do novo marido de Júlia, Eduardo Giraldes, dono do Azeite Royal — marca conhecida por ter patrocinado clubes cariocas como Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Demóstenes deixou a defesa por falta de pagamento.
O novo defensor da viúva de Adriano da Nóbrega é ex-fuzileiro naval, formado na Marinha em 1999 – seu perfil no Facebook inclui fotos dos tempos de militar (veja abaixo). Na rede social, Márcio Duarte também se mostra bolsonarista, defensor do voto impresso, crítico da imprensa, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes e até das vacinas contra a Covid-19.
A Folha de S. Paulo publicou no início da semana trechos de uma gravação em que Giraldes, marido de Julia, afirma que buscaria evitar qualquer citação ao presidente Jair Bolsonaro na delação dela. Adriano da Nóbrega era ligado a Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro enquanto ele era deputado estadual. A mãe do miliciano era funcionária de Flávio e estava envolvida no esquema de “rachadinha” denunciado pelo Ministério Público do Rio no gabinete. “Se souber, eu também não vou deixar ela falar”, disse o empresário a Bernardo Bello, um dos principais alvos das revelações da viúva.
O advogado de Julia foi também um apoiador do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, igualmente ex-fuzileiro naval e um dos alvos da delação premiada da viúva, conforme revelou VEJA. “Irmão de armas”, escreveu Duarte sobre o governador cassado, em uma postagem em setembro de 2019.
Julia disse ao Ministério Público ser Bernardo Bello, ex-presidente da escola de samba Vila Isabel, o chefe do Escritório do Crime, grupo criminoso ao qual Adriano estava ligado. No anexo 6 de suas revelações, que trata da morte de seu ex-marido, ela afirma que em 2019 o miliciano recebeu informações de que Bernardo havia procurado interlocutores de Witzel para convencê-los de que o ideal não seria a prisão do ex-capitão, que estava foragido, mas a morte dele.
Se assim fosse feito, os dois saíram ganhando. Bernardo se livraria mais um antigo sócio, com o qual acumulava desgastes. Já Witzel reforçaria seu discurso público de combate aos criminosos.
Em uma postagem no Facebook na semana passada, o advogado Márcio Duarte compartilhou uma imagem com os seguintes dizeres: “uma delação significa um aviso que diz: ‘vão mais fundo, porque tem muito mais podridão do que consigo provar, e com gente poderosa”.