Apoiado por ‘pais’ do Plano Real contra Bolsonaro, Lula era contra a moeda
Persio Arida, Armínio Fraga, Pedro Malan e Edmar Bacha declararam apoio ao ex-presidente no segundo turno contra o presidente Jair Bolsonaro
Considerados “pais” do Plano Real, que estabilizou a moeda e acabou com o ciclo de hiperinflação que o país vivia no início da década de 1990, Persio Arida, Armínio Fraga, Pedro Malan e Edmar Bacha declararam apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da eleição presidencial contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). Os economistas anunciaram voto no petista dizendo esperar dele uma “condução responsável da economia” –o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que coordenou o plano no governo Itamar Franco, também declarou apoio a Lula nesta semana.
A adesão de Arida, Fraga, Malan e Bacha ao candidato do PT pode ser interpretada como um verdadeiro milagre operado por Bolsonaro e suas ameaças ao ambiente democrático do país. O presidente, afinal, tem um ministro da Economia que se diz liberal, Paulo Guedes, enquanto os petistas votaram contra o Plano Real e Lula foi um crítico da nova moeda nas campanhas presidenciais de 1994 e 1998. Em ambas, o petista foi derrotado por FHC no primeiro turno.
Na época da tramitação da MP 482, que inseria a URV (moeda transitória antes do Real), a oposição argumentava que a conversão para a nova moeda poderia causar perdas salariais para os trabalhadores, como de fato ocorreu em outros planos.
Além disso, os partidos eram críticos da “dolarização” do plano, fato de a URV ter sido indexada ao dólar, ou seja (1 URV = 1 dólar). Um exemplo disso, é que em outro momento da discussão, Lula disse: “O que eu acho é que ter uma moeda forte não é compará-la ao dólar ou quando você anda apenas com uma moeda no bolso. É quando ela tiver um bom poder de compra. Por exemplo, quando um trabalhador entrar num supermercado e ele sair com a cesta básica lotada e der para ele comer o mês inteiro. Hoje, não está garantindo isso”.
Em 1994, ficou famosa uma entrevista coletiva entre Lula e FHC após uma sabatina na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), quando o real já estava circulando. “Quando o Collor lançou o programa dele, imediatamente o povo dava 90% de aceitação para o presidente. É preciso ver a longo prazo se a economia brasileira resiste”, disse Lula na ocasião. FHC rebateu: “A economia resiste, porque este plano foi feito com cuidado. Com muita objeção do PT e do PDT, que atrapalhavam”.
Quatro anos depois, o candidato do PT se referiu ao Plano Real como “fantasia”, ao dizer que “o povo tem que aprender que ninguém pode viver de fantasia o tempo inteiro”. “É essa a estabilidade monetária, que causa instabilidade social”, declarou.