Em um jantar no clube Monte Líbano, centenas de empresários foram endossar a campanha do prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição. Em meio ao discurso do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos principais cabos eleitorais de Nunes no meio político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (que cumpre agenda no Rio Grande do Sul) apareceu no telão com uma declaração de apoio em vídeo. “Um abraço ao Ricardo Nunes. Por você, tenho certeza que haverá segundo turno”, disse Bolsonaro na noite desta quinta-feira, 12. “Ele está credenciado para continuar à frente da prefeitura. É a primeira disputa majoritária que ele disputa e tenho certeza que sairá vitorioso”, acrescentou o ex-presidente.
O apoio do maior líder da direita no país ocorre em um bom momento para Nunes na disputa eleitoral. Nas pesquisas divulgadas nesta semana, ficou claro o peso da coligação de doze partidos que sustentam a candidatura do emedebista. Com 65% da grade de rádio e televisão dedicada à propaganda política, o prefeito subiu na intenção de voto. O crescimento vem após turbulências na campanha causadas pela entrada de Pablo Marçal (PRTB), que bagunçou o tabuleiro político da capital paulista. O coach foi criticado, de forma indireta, por Bolsonaro em sua aparição surpresa: “Não queremos uma experiência nova, nós já sabemos como são essas figuras. Nós temos como reverter isso aí”, disse o ex-presidente em mensagem ao empresariado paulistano — leia a matéria na edição de VEJA desta semana.
No fim de semana passado, Bolsonaro foi a principal estrela de uma manifestação que reuniu mais de 40.000 pessoas na Avenida Paulista. Organizada pelo pastor Silas Malafaia, o evento contou com a candidata à prefeitura do partido Novo, Marina Helena, e com Nunes em cima do trio elétrico. Antes de irem ao ato, o ex-presidente e o prefeito se reuniram no Palácio dos Bandeirantes, e Bolsonaro teria dito que era “muito cedo” para entrar de cabeça na campanha de Nunes. Ao chegar após o fim dos discursos na manifestação, Marçal causou tumulto, e o desconforto foi externado por Bolsonaro e, principalmente, por Malafaia. O pastor abriu fogo contra o candidato do PRTB, que disputa votos da direita paulistana e tem muita adesão do eleitorado evangélico.
A cisão causada por Marçal acabou aproximando Bolsonaro de Nunes, ainda que a contragosto. Segundo aliados, o ex-presidente não morre de amores pelo prefeito paulistano, mas se comprometeu com a campanha ao indicar o vice coronel Mello Araújo, após pressão de Tarcísio e do cacique do PL Valdemar Costa Neto. Por outro lado, Nunes também não é um bolsonarista de carteirinha e apostou em um apoio conveniente do ex-presidente, mas agora precisa dos votos de quem votou no capitão no segundo turno de 2022. “Eu acho que nenhum dos dois tem alternativa”, avalia o diretor de análises da AtlasIntel, Yuri Sanches. “Se Nunes quer chegar ao segundo turno, e o Bolsonaro quiser manter o seu ‘monopólio’ do público bolsonarista e neutralizar o crescimento do Pablo Marçal, eles vão precisar se abraçar.”
No jantar desta quinta-feira, além de Tarcísio, Nunes, Mello Araújo e da aparição surpresa de Bolsonaro, outros quadros políticos relevantes se fizeram presentes. No palco, o ex-presidente Michel Temer, os chefes dos diretórios nacionais do MDB, Baleia Rossi, e do PSD, Gilberto Kassab, e o ex-governador Rodrigo Garcia estavam sentados lado a lado. Em vídeos que circulam no WhatsApp, é possível ver o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, André do Prado (PL), em uma das mesas.
Campo de Marte e Ceagesp
No discurso de apoio a Nunes ao empresariado, Jair Boslonaro citou dois episódios que são considerados simbólicos pela campanha à reeleição em São Paulo, na relação entre o prefeito e o ex-presidente. Primeiro, é a troca do Campo de Marte pelo perdão da dívida do município com a União. O outro é a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), órgão federal que foi comandado por Ricardo Mello Araújo sob o governo Bolsonaro.
Segundo Nunes, os locais foram escolhidos para gravações com o ex-presidente que serão veiculadas na propaganda eleitoral do prefeito. A estratégia na eleição paulistana concorre com uma extensa agenda de compromissos de Bolsonaro até a data do primeiro turno. O ex-presidente não afirmou que irá a São Paulo, mas, na semana que antecede o pleito, não marcou viagens e deve ficar no Rio de Janeiro. A campanha de Nunes aposta que neste período ele faça ao menos um bate e volta para filmar o programa eleitoral do emedebista.