A saga do navio de tripulantes com cepa indiana isolado no mar do Maranhão
Embarcação de Hong Kong está a cinco horas de lancha de São Luís, com maioria da tripulação contaminada; paciente em estado grave está intubado na capital

O navio MV Shandong Da Zhi, que levava ao menos seis tripulantes contaminados com a cepa indiana da Covid-19, um deles em estado grave, chegou ao 11º dia isolado a cerca de 50 km — ou cinco horas de lancha — de distância de São Luís, no Maranhão, dentro da área sob jurisdição do país, que é de 200 milhas náuticas (ou cerca de 370 km). O governo do estado tenta impedir a transmissão local da nova variante, que pode ser mais contagiosa do que as que estão em circulação no país e já virou motivo de um alerta global da Organização Mundial de Saúde (OMS).
O navio, que tem bandeira de Hong Kong, saiu inicialmente da Malásia e parou na Cidade do Cabo, na África do Sul, onde embarcaram os atuais 24 tripulantes. Um homem indiano de 54 anos, que já tinha os sintomas da doença desde o dia 4 de maio, vinha recebendo atendimento médico na própria embarcação, mas, após o quadro piorar, foi removido de helicóptero para São Luís, onde foi intubado e está internado em estado grave.
A comunicação da suspeita foi feita às autoridades estaduais pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que monitora a chegada de embarcações de outros países ao Brasil e faz a inspeção da carga e da tripulação antes de conceder autorização para atracar — o Shandong Da Zhi foi contratado pela Vale para fazer o transporte de minério de ferro.
Após o alerta, toda a população do navio foi submetida a testes — dos 24 tripulantes, quinze estavam contaminados e seis deles tinham carga viral alta, confirmando que estavam infectados com a cepa indiana. Apenas três dos contaminados tinham sintomas e foram levados a unidades de saúde na capital maranhense — dois já tiveram alta. Os tripulantes foram colocados em quarentena na própria embarcação, isolados em cabines individuais.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, 102 amostras de profissionais que tiveram contato direto ou indireto com os passageiros foram encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública do Maranhão. O monitoramento dessas pessoas está sendo feito pelo Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS). Toda a operação de atendimento aos tripulantes foi feita por meio de helicópteros.
A Anvisa está cooperando com a testagem e monitoramento. Segundo o governo do Maranhão, ainda não há confirmação de transmissão local da variante indiana. Trabalhadores portuários estão sendo vacinados desde a última quinta-feira, 20.
Suspeitas
Desde que o Maranhão confirmou na quinta-feira, 20, o primeiro caso da variante do novo coronavírus identificada da Índia, chamada B.1.617, ao menos três outros estados monitoram casos suspeitos da nova cepa. São eles: Pará, Ceará e Rio de Janeiro.