A queixa da defesa dos investigados no dia D dos depoimentos na PF
Oitivas relacionadas ao inquérito que apura responsabilidades sobre uma tentativa de golpe de Estado estão marcadas para a tarde desta quinta, 22

A exemplo do ex-presidente Jair Bolsonaro, boa parte dos 25 investigados por suspeita de articulação de um golpe de Estado também deve ficar em silêncio nos depoimentos simultâneos marcados pela Polícia Federal (PF) para a tarde desta quinta-feira, 22. As defesas brigam no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo acesso ao conteúdo das investigações — o que, de acordo com os advogados, não aconteceu — e dizem que estão “no escuro”.
O ministro Alexandre de Moraes, relator de todos os casos que envolvem o ex-presidente, levantou no começo da semana o segredo de Justiça sobre o inquérito das milícias digitais, de onde saiu a ordem para a megaoperação do dia 8 de fevereiro, que apreendeu o passaporte de Bolsonaro e levou cinco investigados para a cadeia. No entanto, os resultados das últimas buscas e apreensões não estão lá.
A íntegra das mensagens interceptadas e o conteúdo do que foi encontrado nos celulares dos investigados estão sob a guarda da Polícia Federal. Além disso, o documento mais visado pela defesa do ex-presidente, que é o acordo de colaboração premiada celebrado pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cesar Barbosa Cid, permanece em segredo de Justiça.
Bolsonaro tentou adiar o depoimento e falar por videoconferência, mas Moraes não cedeu. As oitivas estão marcadas para 14h30 e acontecem em sedes da PF de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. A defesa do ex-presidente informou ao Supremo que, sem acesso à íntegra das provas obtidas pela PF, Bolsonaro não irá falar.
“Tive acesso apenas ontem à parte da investigação, e, pelo que me foi entregue, não há nada além de um relato cheio de ilações e contradições. Não há a mínima possibilidade do meu cliente prestar depoimento sobre provas que estão sendo escondidas por quem acusa. O princípio de paridade de armas é base do sistema penal brasileiro”, afirma o advogado Miguel Vidigal, que defende o Padre José Eduardo, um dos investigados no caso.
Alguns investigados, contudo, devem colaborar com as investigações. Um deles é o ex-ministro Anderson Torres: seu advogado confirmou que ele deve responder a todas as perguntas. Filipe Martins, ex-assessor de assuntos internacionais e suspeito de ser o autor da minuta do golpe que Bolsonaro teria levado ao comando das Forças Armadas, também deve responder aos questionamentos da investigação.