A PM de São Paulo é a mais letal do Brasil?
Sob pressão em razão de episódios recentes de violência, a polícia paulista matou 676 pessoas de janeiro a outubro deste ano, mais que o dobro de 2022
Entre janeiro e outubro de 2024, o estado de São Paulo alcançou o mórbido patamar de 676 mortes decorrentes de operações e abordagens da Polícia Militar. O número consta na base de Dados Nacionais de Segurança Pública, disponibilizada pelo Ministério da Justiça, e representa uma alta de 104% em relação a 2022 (último ano do governo anterior), quando 331 civis foram mortos.
Como mostra reportagem de VEJA, a brutalidade das ações da PM paulista tem aumentado a pressão política sobre o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite. A aversão escalou após casos recentes que provocaram indignação, como o de um menino de 4 anos morto com um tiro de espingarda calibre 12 da PM durante uma operação no litoral paulista; um homem alvejado com onze disparos pelas costas por um policial ao tentar roubar um produto de limpeza em um mercado em São Paulo; e um PM flagrado jogando um jovem de cima de uma ponte na capital paulista.
Embora a violência da polícia paulista esteja no alvo — e de fato ostente números preocupantes —, ela não é a mais letal do país. Em termos absolutos, a PM de São Paulo perde para a da Bahia, que no mesmo período contou 1.344 civis mortos por policiais. Pressionado pelos altos índices de violência, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) elogiou recentemente o trabalho das forças baianas de segurança e afirmou que os agentes vão “trabalhando incansavelmente no enfrentamento ao crime organizado, ao tráfico de drogas e contra qualquer tipo de violência”.
Na sequência do ranking, segundo os dados federais, aparecem na tabela as mortes por policiais no Rio de Janeiro (610), no Pará (457) e em Goiás (326). O número real de vítimas da PM fluminense pode ser maior, já que o estado, conforme nota do Ministério da Justiça, ainda não enviou o relatório completo referente a outubro.
Amapá lidera ranking proporcional
Na comparação pela taxa de mortes por 100.000 habitantes, o Amapá aparece com a maior violência policial entre os estados brasileiros. Nos dez primeiros meses deste ano, a polícia amapaense matou 118 pessoas, o equivalente a um índice de 17,84 mortes por 100 mil moradores — a população do estado é de 802.000 habitantes.
Por esse critério, a Bahia surge em segundo lugar, com 10,86 vítimas da PM por 100.000 habitantes, seguida por Sergipe (6,55), Pará (6,33), Mato Grosso (5,82) e Goiás (5,32).
Estado mais populoso do Brasil, com quase 46 milhões de moradores, São Paulo pontua 1,76 morte por ação policial a cada 100.000 habitantes.
Mortos pela polícia por estado, em números absolutos
(janeiro a outubro de 2024)
- Bahia: 1.344
- São Paulo: 676
- Rio de Janeiro: 610
- Pará: 457
- Goiás: 326
- Paraná: 260
- Mato Grosso: 186
- Ceará: 156
- Minas Gerais: 150
- Sergipe: 125
- Amapá: 118
- Rio Grande do Sul: 104
- Alagoas: 72
- Santa Catarina: 69
- Rio Grande do Norte: 67
- Maranhão: 66
- Espírito Santo: 65
- Mato Grosso do Sul: 54
- Pernambuco e Tocantins: 46 (cada)
- Paraíba: 45
- Amazonas: 34
- Piauí: 18
- Distrito Federal: 13
- Acre: 9
- Roraima: 7
- Rondônia: 5
Mortes pela polícia por estado, taxa por 100.000 habitantes
(janeiro a outubro de 2024)
- Amapá: 17,64
- Bahia: 10,86
- Sergipe: 6,55
- Pará: 6,33
- Mato Grosso: 5,82
- Goiás: 5,32
- Rio de Janeiro: 4,25
- Tocantins: 3,50
- Alagoas: 2,68
- Paraná: 2,64
- Rio Grande do Norte: 2,33
- Mato Grosso do Sul: 2,23
- Ceará: 2,03
- Espírito Santo: 1,90
- São Paulo: 1,79
- Acre: 1,23
- Paraíba: 1,30
- Roraima: 1,17
- Maranhão: 1,13
- Rio Grande do Sul: 1,11
- Santa Catarina: 1,03
- Amazonas: 0,95
- Minas Gerais: 0,84
- Piauí: 0,74
- Pernambuco: 0,58
- Distrito Federal: 0,52
- Rondônia: 0,34