A inflamada briga entre Cid e Ciro Gomes que levou a incêndio no PDT
Irmãos divergem sobre reaproximação com PT no estado; debandada de pedetistas às vésperas de ano de eleição acendeu alerta na direção do partido
A pouco mais de um ano para as eleições municipais de 2024, alguns dos mais tradicionais partidos políticos travam ruidosas brigas internas. A edição de VEJA desta semana mostra como as motivações para as rusgas variam desde disputa por dinheiro e influência até jogos de alianças eleitorais a nível local e nacional.
No caso do PDT, o epicentro da crise é um racha no núcleo da família Ferreira Gomes e que envolve uma reaproximação da legenda com o PT no Ceará, reduto do clã. Em lados opostos, estão hoje os irmãos Ciro — com decadente influência dentro da sigla desde as eleições de 2022 — e o senador Cid Gomes.
Os partidos, que caminhavam juntos há quatro mandatos consecutivos no comando do estado, romperam no ano passado após divergências de Ciro com Cid e Camilo Santana (PT), que à época deixara o governo cearense para disputar uma cadeira ao Senado. O atrito começou quando da escolha para o postulante à sucessão de Camilo — pelo acordo entre as legendas, era a vez de o PDT indicar o nome. Camilo começou a articular pelo nome de Izolda Cela (PDT) — sua vice que assumira o Palácio da Abolição –, mesmo com outros pedetistas ainda no páreo, como o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio. Questionado por Ciro, Camilo respondeu que o posicionamento pró-Izolda havia sido acordado com Cid — foi o estopim para o rompimento entre os irmãos.
Ciro terminou por apoiar Roberto Cláudio como candidato do PDT — ele ficou em terceiro lugar –, enquanto o PT lançou Elmano de Freitas, que liquidou a fatura no primeiro turno. O que já não andava bem foi ainda mais inflamado com a falta de apoio de aliados à campanha presidencial de Ciro — Cid e outros correligionários fizeram campanha tímida ao presidenciável no primeiro turno e, no segundo, debandaram para o palanque de Lula.
As movimentações mais recentes do PDT cearense mostram que, com a aproximação das eleições de 2024, as rusgas estão longe de acabar. A preocupação do partido, agora, é com a perda de prefeitos para a base de Elmano de Freitas, enquanto Cid articula pela volta da aliança da sigla com o PT.
O último episódio na conturbada história envolve precisamente a disputa pelo comando do diretório estadual da sigla. Com a saída de Carlos Lupi da Executiva Nacional para assumir o Ministério da Previdência de Lula, assumiu em seu lugar o deputado André Figueiredo (PDT-CE), líder da bancada na Câmara e aliado de Ciro. À época, o parlamentar também presidia o diretório estadual do PDT no Ceará, palco do acirramento da crise.
Pressionado pela ala de Ciro, Figueiredo decidiu licenciar-se do diretório estadual até o final de novembro, quando acontecem novas eleições. Quem assume, até lá, é Cid. Pelo acordo firmado, o senador deverá apoiar a renovação do mandato de Figueiredo na direção estadual enquanto a sigla se debruça sobre as eleições do ano que vem. O episódio mais recente do racha no estado, no entanto, mostra que muita água ainda deverá rolar.
Aliado de Cid, o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Evandro Leitão, deixou o PDT no final de agosto em meio a alegações de “perseguição” da cúpula nacional do partido e, agora, negocia a migração para o PT ou PSB para concorrer à prefeitura de Fortaleza. Simultaneamente, a Executiva Nacional do PDT foi à Justiça para tentar barrar a desfiliação de Leitão — a justificativa é a de que o mandato pertence à legenda, e não ao parlamentar. A saga ainda tem mais um porém — caso o chefe da Alece dê cabo a seu plano, deverá concorrer contra o atual prefeito da capital, José Sarto (PDT), que por sua vez é ligado a Ciro.