No imaginário popular brasileiro, a ideia de “ciência” ou de “cientista” é imediatamente associada à de nomes como os de Albert Einstein e Isaac Newton. Mais recentemente, incluímos nessa lista o físico da bomba nuclear, Oppenheimer, popularizado pela interpretação de Cillian Murphy em obra cinematográfica que leva seu nome. O hall de “personalidades científicas” é ainda mais diverso no ambiente das redes digitais: os chamados YouTubers, como Sérgio Sacani (Space Today) e Pedro Loos (Ciência Todo Dia), ajudaram a impulsionar personalidades como Nikola Tesla (e suas inúmeras descobertas), previamente mais populares apenas nos círculos mais acadêmicos. De certa forma, a associação mental entre a palavra “ciência” e a ideia de ciências físicas é imediata. Isso porque, mesmo sem sabermos nada a respeito de mecânica newtoniana ou quântica, magnetismo, ou teoria da relatividade, reconhecemos instantaneamente a importância desses conceitos em nossa realidade diária: ficamos de pé, acendemos uma lâmpada, geramos energia via fissão nuclear, e assistimos ao dono do X lançar foguetes em órbita terrestre ao vivo via nossos smartphones.
Entretanto, as descobertas científicas por si sós, ou a pura documentação burocrática de tais avanços, não são suficientes para que possamos incorporá-las na cultura de consumo de massa. É por meio da atividade econômica da produção de artefatos derivados de tais descobertas que o homem comum desfruta de seus benefícios. E mais: não basta a ideia ser brilhante, ao nível “Einstein” de inteligência. A ideia precisa também ser lucrativa para a iniciativa privada.
Nesse contexto, o atributo da lucratividade implica eficiência produtiva e satisfação completa da demanda de mercado (o quê, para quem, quanto, onde e quando produzir). Assim, a eficiência produtiva e a satisfação dos mercados estão para o sucesso da atividade econômica como a pureza do isótopo de urânio está para a bomba de Oppenheimer: quanto maior forem, melhor. Portanto, a eureka do agente econômico vem da resposta à seguinte questão: como produzir o máximo possível utilizando a menor quantidade viável de recursos disponíveis?
É natural recorrermos aos cientistas. Mas quais? Os físicos? Acho que não… Então, quem são, se é que existem, os “cientistas” que estudam tais processos decisórios a respeito de como produzir mais com menos? Seriam eles os economistas? Talvez. Os estatísticos e matemáticos? Alguns, com certeza. Os chamados engenheiros de produção? Quem sabe… Acontece que essas tais “ciências do processo decisório” têm nome: Pesquisa Operacional.
Em tal caso, aposto que o leitor já tenha ouvido falar dos “pesquisadores operacionais”! Não? Nem eu… Isso porque, de fato, a prática da Pesquisa Operacional está diluída entre os mais diversos departamentos acadêmicos, laboratórios de pesquisa governamental e empresas privadas. Praticada por economistas, engenheiros e muitos outros profissionais, a Pesquisa Operacional é a área do conhecimento responsável pela investigação a respeito das formas ótimas de atingir objetivos econômicos com recursos escassos, como matéria-prima, força de trabalho, capacidade logística, recursos financeiros, energia etc. A diversidade profissional de seus praticantes está também refletida nas subáreas da Pesquisa Operacional. São elas, entre muitas outras, a otimização de sistemas, os modelos probabilísticos, a teoria das filas, jogos de estratégia e os modelos de transporte logístico.
Mas, antes de conhecermos mais sobre a Pesquisa Operacional, precisamos visitar sua história. Na próxima edição desta coluna, contarei sobre o surgimento da Pesquisa Operacional, já há quase um século. Irei traçar paralelos entre a motivação e o desenvolvimento da disciplina com aqueles que culminaram com a bomba de Oppenheimer. A pergunta que deixo ao leitor é: quem foi George B. Dantzig? E John V. Neumann? Richard Bellman? O leitor irá se surpreender ao saber que as descobertas desses cientistas são, na prática, muito mais presentes na vida moderna e relevantes para seu funcionamento do que os efeitos da fissão nuclear dos átomos de urânio ou do que os paradoxos mentais da teoria da relatividade Einsteiniana.
Gabriel Nicolosi é PhD em Engenharia Industrial e Pesquisa Operacional pela Pennsylvania State University e Professor de Engenharia de Gestão e de Sistemas na Missouri University of Science and Technology, nos Estados Unidos.