O presidente da República tem dito que gastos com educação e saúde são investimento. Costuma repetir que o mercado “não tem coração”. Nesta quinta-feira, 12/1, fez declarações que podem deseducar certos grupos, piorando o sentimento anticapitalista que caracteriza amplas parcelas da sociedade.
No primeiro caso, Lula proibiu falar em “gasto”. O certo seria “investimento”, incluindo salários do governo. Esse novo e estranho conceito viola regras consagradas da contabilidade, segundo as quais os desembolsos do governo e das famílias constituem gastos de “custeio, consumo ou capital de giro” ou “investimento”. Um exemplo dos primeiros são os destinados a pagar justamente salários dos servidores. Do segundo, é a construção de uma residência, um hospital, uma escola, uma rodovia e semelhantes.
Rotular gastos com outro nome não altera sua natureza. Se eles forem maiores do que as receitas, haverá déficit, a ser financiado com tributação ou endividamento. Caso se recorra a emissão de títulos públicos, a dívida pública aumenta e pode adquirir trajetória explosiva, sinalizando o risco de insolvência. Os juros futuros precificam a piora do déficit, acarretando fugas de capital. O dólar fica mais caro. A inflação aumenta e o potencial de crescimento econômico cai. Os pobres serão os mais prejudicados.
No segundo caso, Lula afirmou que “o mercado não tem coração, sensibilidade, humanismo. Não tem solidariedade”. E completou: “as pessoas vão ficar nervosas, mas nós vamos fazer com que esse povo deixe de ser miserável”. Traduzindo: mesmo que as avaliações de risco piorem, Lula irá em frente. O efeito da afirmação seria o mesmo: inflação, juros mais altos, dólar mais caro, menos crescimento e prejuízo maior para os pobres.
O mercado não tem coração, é verdade. Tem responsabilidade. Ele é composto por profissionais treinados para administrar recursos de terceiros (poupanças das famílias e das empresas), buscando rentabilizá-los. O papel relevante do mercado é permitir que unidades superavitárias financiem as que precisam de financiamento, como o indivíduo que compra a casa própria, um veículo, um eletrodoméstico ou realiza uma viagem de turismo. Ou uma empresa que necessita de capital de giro para funcionar ou de recursos para financiar uma nova fábrica e assim gerar emprego e renda para os trabalhadores.
Declarações inapropriadas do presidente criam incertezas. Surge o risco de calote da dívida pública e desequilíbrio macroeconômico. Diante disso, esses profissionais fogem de aplicações que podem sofrer perdas ou demandam juros mais altos para permanecer financiando o governo. Eles têm a responsabilidade de proteger quem neles confia para gerir suas poupanças. Se fossem guiados pelo apelo emocional (e irracional) do presidente, provocariam prejuízos para os poupadores, o que resultaria em desaparecimento de clientes e, no limite, perda da capacidade de exercer sua atividade. Se isso se generalizar, a perda será do país.
Palavras do presidente da República importam muito.