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Maílson da Nóbrega

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Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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Em vez de alertar, Lula preferiu vender fantasias

Promessas de mais empregos e aumentos reais de salários são incompatíveis com a situação fiscal e com o baixo potencial de crescimento da economia

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 1 nov 2022, 18h47 - Publicado em 31 out 2022, 11h58
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  • Luiz Inácio Lula da Silva
    O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva - 31/10/2022 - (Mauro Horita/Getty Images)

    No discurso em que agradeceu a Deus e aos eleitores por sua vitória, Lula recorreu a visões corretas para um momento como aquele. Prometeu governar para 215 milhões de brasileiros e não para os que votaram nele. Afirmou que não existem dois Brasis e disse que era hora de “reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio”. Sustentou que “este país precisa de paz e de união”. Como esperado, prometeu desmatamento zero da Amazônia.

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    Teria sido a hora de, ao contrário, alertar a sociedade sobre os difíceis tempos que nos esperam. Lula herdará um ambiente oposto ao que recebeu quando se elegeu pela primeira vez, em 2002. Não veremos uma expansão espetacular da China, que contribuiu para o ciclo favorável de reformas que impulsionaria o crescimento da economia. Em vez de contas públicas em ordem, graças ao governo FHC, enfrentará o desarranjo fiscal do governo Bolsonaro

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    Quando Lula assumir o governo pela primeira vez, em 2003, o mundo iniciava as duas décadas gloriosas derivadas do fim da Guerra Fria e da abertura da China. A percepção de que não haveria uma terceira guerra levou a decisões centradas na eficiência da economia global. O otimismo se espalhou pelo planeta, Francis Fukuyama assegurou que havíamos chegado ao “Fim da História”. Agora, assistimos à maior inflação dos últimos quarenta anos nos países ricos, que originou um novo ciclo de alta de juros nesses países. A recessão tende a dar as caras no Estados Unidos e na Europa. O risco geopolítico renasceu com a invasão da Ucrânia e com as ameaças que Xi Jinping tem feito, de reunificar a China, de forma pacífica e, se necessário, por invasão de Taiwan.

    Esse cenário externo desafiador e desfavorável para o crescimento da economia brasileira prevalecerá ao lado de uma situação fiscal delicada no front doméstico. É preciso reconstruir a âncora fiscal, ao tempo em que o teto de gastos – que contribuiu para a recuperação da confiança no Brasil – está cheio de furos. Não será tarefa fácil quando se considera que 95% dos gastos da União em 2023 abrangerão itens obrigatórios: pessoal, previdência, saúde, educação e programas sociais de transferência de renda em favor dos menos favorecidos. Isso é insustentável, mas Lula, de forma impensada, tem defendido a revogação do teto de gastos. O Brasil precisa, pois, de duras reformas para reduzir substancialmente a rigidez orçamentária, bem como restabelecer a capacidade de conduzir políticas públicas pró-crescimento e voltadas a reduzir a pobreza e a desigualdade.

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    Era a hora de Lula utilizar o recém adquirido capital político para alertar a sociedade sobre os desafios que temos à frente. Teria sido o momento de inspirar-se em Winston Churchill ao assumir a posição de primeiro-ministro do Reino Unido em plena guerra contra a Alemanha. Churchill alertou para os dias difíceis e incertos que viriam. Não falou em fantasias. Prometeu ao povo britânico “sangue, suor e lágrimas” na luta para proteger a nação e derrotar Hitler. Foi bem-sucedido.

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    Lula fez o contrário. Como se ainda estivesse em busca de votos, fez promessas desejáveis, mas incompatíveis com a armadilha do baixo crescimento, de que o Brasil se tornou prisioneiro, e com a penúria fiscal do país. Assim, prometeu acabar com a pobreza, apoiar o desenvolvimento dos países africanos, agir para que o povo coma bem, tenha salários acima da inflação e acesso à leitura, ao teatro, ao cinema, a todos os bens culturais. Garantiu que haverá renegociação de dívidas das famílias. Antecipou que a roda da economia iria girar de novo, gerando empregos e valorização de salários. 

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    Vários estudos mostram que o Brasil dificilmente crescerá acima de 2% no próximo quadriênio, talvez menos. A economia não gira a golpes de retórica, mas como resultado de medidas para melhorar o ambiente de negócios, modernizar o sistema tributário, aumentar a qualidade da educação, conferir eficiência à logística – inclusive mediante investimentos em infraestrutura –, privatizar empresas estatais que não mais se justificam e assim por diante. Em resumo, elevar a produtividade, que é principal fator de geração de riqueza de um país. 

    Lula faz apelos corretos à paz social, à união do país, à redução da pobreza e da desigualdade, e à defesa da Amazonia, mas desfilou um rosário de bondades que dificilmente poderá entregar. O presidente eleito precisa descer ao solo.

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