Em conversa com apoiadores nesta sexta-feira, 27, o presidente Jair Bolsonaro reagiu às manifestações dos que desconfiam de que ele pensa dar um golpe de Estado. “Quem diz que eu quero dar golpe é idiota”, disse. “Já sou presidente”, concluiu.
Para Bolsonaro, portanto, golpe é o movimento (geralmente militar, parece pensar) que depõe o Presidente da República e escolhe um terceiro para assumir o cargo. Em outras palavras, o golpe viria de quem quer virar presidente à força. Isso demonstra seu incrível desconhecimento do mínimo da história de ações golpistas.
Há inúmeras declarações golpistas de Bolsonaro (“eu sou a Constituição”, “da minha caneta tudo pode acontecer”, “sem voto impresso não vai ter eleições” e semelhantes). Elas são corretamente interpretadas como demonstrações de seu desejo de promover uma ruptura institucional, ainda que não perceba como funcionariam esse processo e suas desastrosas consequências políticas, econômicas e sociais. Seu propósito seria permanecer no cargo, mas munido de poderes ditatoriais.
Mais apropriado seria falar, pois, em autogolpe. A história está cheia de exemplos. No Brasil, o presidente Getúlio Vargas tornou-se um ditador com o autogolpe de 1937, a que se sucedeu uma Constituição autoritária, então denominada de “Polaca”. No Peru, o presidente Alberto Fujimori fez algo parecido em 1992. Nenhum dos dois substituiu presidentes depostos. Ambos ficaram no mesmo cargo.
Bolsonaro dificilmente teria inteligência para articular um autogolpe, nem liderança pessoal para conquistar adeptos e o apoio das Forças Armadas com o objetivo de comandar uma guinada autoritária. É preciso, mesmo assim, não desprezar a hipótese de uma tentativa de um autogolpe, ainda que infrutífero. Quem teme esse risco não é idiota.