A Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou recentemente sua lista de patógenos com maior potencial para desencadear uma nova pandemia, dobrando o número de agentes em comparação com listas anteriores. A próxima pandemia é uma certeza; só não sabemos quando virá.
A listagem renovada, que inclui mais de 30 vírus e bactérias, destaca a complexa combinação de fatores biológicos e ambientais que aumentam o risco de epidemias. O perigo pode estar mais próximo do que algumas pessoas gostariam de imaginar. Basta reparar que a própria OMS decretou estado de emergência internacional devido ao aumento de casos de mpox na África.
Pensando no potencial pandêmico, vírus de RNA, como o da gripe aviária H5N1, e outros patógenos de transmissão respiratória estão entre os mais preocupantes. Eles têm uma alta taxa de mutação, o que lhes permite adaptar-se progressivamente ao organismo humano, facilitando a transmissão e a resistência à resposta imune.
Já os arbovírus, por sua vez, contam com fatores como mudanças climáticas e o avanço das áreas urbanas e agrícolas sobre matas e outros biomas, que criam um ambiente propício para a proliferação de doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e chikungunya, além de colocar os seres humanos mais próximos de animais que são hospedeiros naturais desses patógenos.
O aumento do número de micróbios na lista da OMS também implica desafios significativos para os laboratórios clínicos. A falta de kits diagnósticos comerciais para muitos desses agentes torna essencial o desenvolvimento de testes in-house, uma tarefa que demanda recursos e tempo.
A necessidade de os laboratórios se anteciparem, validando previamente exames que possam ser úteis em uma crise futura, é iminente. Além disso, a vigilância constante dos resultados laboratoriais é crucial para identificar surtos emergentes de forma precoce e coordenar uma resposta eficaz.
A vigilância genômica é outra ferramenta essencial na detecção e controle de patógenos em rápida evolução. O sequenciamento genético permite monitorar mutações que podem impactar a eficácia dos testes diagnósticos e das vacinas. As tecnologias avançadas, como a PCR em tempo real, dependem do conhecimento detalhado do genoma dos agentes, o que exige um investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento.
O relatório da OMS serve como um alerta: a preparação e a capacidade de resposta rápida são fundamentais para mitigar os impactos de uma nova pandemia. Os laboratórios clínicos, em particular, desempenham um papel crucial nesse processo, desde a validação de testes diagnósticos até a colaboração com agências de vigilância epidemiológica.
Se trabalharmos em conjunto, buscando nos antecipar a essas ameaças, poderemos controlar os futuros surtos e prevenir a escalada para uma pandemia.
* Carolina dos Santos Lázari é médica infectologista e patologista clínica e membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML)