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Precisamos de novos protocolos para o tratamento de jovens com câncer

Diretora médica do Hospital do GRAACC expõe os desafios na assistência a pacientes de 15 a 29 anos e defende abordagem mais efetiva a essa população

Por Monica Cypriano*
Atualizado em 4 out 2024, 09h30 - Publicado em 4 out 2024, 09h29

O câncer, uma das principais causas de morte precoce no mundo, mobiliza a comunidade médico-científica em uma incessante busca por novas abordagens terapêuticas que aumentem as chances de cura. A oncologia pediátrica, especificamente, tem apresentado avanços significativos.

No Brasil, o Hospital do GRAACC, em seus mais de 30 anos de atividades, elevou o patamar do tratamento de alta complexidade do câncer infantojuvenil, com taxa média de 72% de cura.

Mas gostaria de chamar a atenção para um assunto de extrema relevância: as lacunas críticas, em todo o mundo, no tratamento do câncer para a faixa etária entre 15 e 29 anos, conhecida internacionalmente pela sigla AYA (adolescent and young adult – adolescentes e jovens adultos).

A complexidade dessa faixa de transição reside no fato de que ela se encontra na interseção entre tipos de câncer com tratamentos bastante distintos. Essa “janela” entre as abordagens exclusivamente infantis ou adultas impede um atendimento direcionado e eficaz, o que repercute no bem-estar e afeta profundamente o prognóstico.

A ausência de protocolos específicos para o tratamento do câncer dessa população é um dos motivos elencados pela comunidade científica para ela apresentar maiores taxas de mortalidade em comparação com pacientes mais jovens e mais velhos.

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A fim de reverter essa situação, alguns países desenvolvidos tratam em centros de oncologia pediátrica aqueles diagnosticados com cânceres comuns na infância ou adolescência, enquanto os que apresentam tumores típicos da fase adulta recebem cuidados em locais especializados em oncologia para adultos. Defendemos a mesma conduta no Brasil.

A Política Nacional de Atenção à Oncologia Pediátrica garante o atendimento integral, em centros oncológicos infantojuvenis, de pacientes entre 0 e 19 anos. Após essa idade, pessoas em tratamento ou que são diagnosticadas com cânceres habitualmente infantis, são direcionadas a centros oncológicos para adultos.

No entanto, já vimos que tais patologias são mais bem combatidas com protocolos pediátricos, que incluem tratamento quimioterápico mais agressivo, ainda não adotados amplamente nos hospitais para adultos.

A criação de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas para jovens adultos no Brasil, assim como no restante do mundo, é imperativa para a qualificação do cuidado desses pacientes, que abrange questões muito além da medicação, como aspectos relacionados à continuidade dos estudos e empregabilidade, relacionamentos afetivos, autoestima, sexualidade, fertilidade, convivência entre pares e privacidade, entre outros.

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O Hospital do GRAACC está pronto para liderar essa mudança e colaborar com outras instituições para transformar o panorama do tratamento oncológico para jovens adultos no Brasil. Entendemos que, como centro de tratamento e pesquisa que é referência para todo o país, temos a responsabilidade de fomentar essa discussão em toda a sociedade e, especialmente, entre nossos pares.

* Monica Cypriano é diretora médica assistencial do Hospital do GRAACC

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