Assine VEJA por R$2,00/semana
Letra de Médico Orientações médicas e textos de saúde assinados por profissionais de primeira linha do Brasil
Continua após publicidade

Pós-pandemia?! Será mesmo?

Uma reflexão sobre como nos (des)cuidamos diante de um vírus que ainda circula e apronta por aí

Por Carlos Starling*
5 out 2023, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A vida exige equilíbrio. Assentar-se e ficar ereto sobre os pés são os primeiros desafios. A evolução da espécie nos deu essa habilidade.

    Publicidade

    Caminhar, correr, caçar e explorar nos trouxe até aqui. Pela necessidade de nos movermos e explorarmos o planeta, nós nos equilibramos e aprendemos até a voar.

    Publicidade

    No momento que escrevo este texto, encontro-me a 10 mil metros de altura, voando a 800 km/h. Magia da tecnologia e da evolução humana.
    O mecânico fica lá embaixo. Mas, tudo bem, funciona! Espero!

    Entretanto, apesar de todos os avanços que nos permitem atravessar continentes em poucas horas, ainda não aprendemos a nos comunicar de forma adequada.

    Continua após a publicidade

    No meu trajeto de Belo Horizonte a Copenhagen, na Dinamarca, apenas eu e uns três gatos pingados (asiáticos) usávamos máscaras. Pelo visto, decretaram o fim da pandemia e não me avisaram.

    Publicidade

    A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) fez um evento com o título “Resistência bacteriana no pós-pandemia”. A doutora Ana Gales, professora da Unifesp, uma das debatedoras e especialistas no assunto, pontuou, de forma contundente: “Pós-pandemia? Terminou?!”

    Epidemiologicamente, não temos elementos para sair soltando foguetes e queimando máscaras e abandonando de vez os cuidados que duramente aprendemos. Até porque há uma nova variante do vírus no ar.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Não sei se vocês perceberam, mas até o álcool em gel, que abundava em todos os locais, agora está desaparecendo. A humanidade, que ficou por três anos literalmente “com álcool na mão”, se esqueceu rápido do sufoco que passou. Ou melhor, que não passou.

    Na maioria dos estados brasileiros e países europeus, a incidência permanece entre 50 e 100 casos por 100 mil habitantes, apesar de as pessoas não estarem mais testando com a mesma frequência de antes. O Sars-CoV-2 continua sendo a principal causa de morte por doença infecciosa em todas as faixas etárias, aqui e acolá.

    Publicidade

    + LEIA TAMBÉM: Nobel de Medicina reconhece descobertas por trás das vacinas de RNA para Covid-19

    Na semana epidemiológica 36, os dados oficiais do Ministério da Saúde registraram 332 óbitos. Ou seja, equivale à queda de um avião com 332 passageiros por semana. Que normalidade cruel é essa?!

    Publicidade

    Os vacinados com a vacina bivalente, atualizada para a variante ômicron, atingiram até o momento um percentual ínfimo da população-alvo. Além disso, a proteção das vacinas, ou da infecção natural contra infecções sintomáticas, cai após quatro meses.

    Novas variantes mais transmissíveis e com potencial de trapacear nosso sistema imunológico já circulam entre nós e no mundo inteiro. O risco matemático de novas ondas epidêmicas pelo coronavírus é de aproximadamente 20% em dois anos, aumentando progressivamente com o tempo, caso não surjam tecnologias potentes para contê-lo.

    Continua após a publicidade

    A conclusão é que o mundo cansou de se proteger contra o vírus e chutou o pau da barraca. Nos aviões, aeroportos e metrôs, as pessoas mergulham nos seus celulares e se entregam ao devaneio digital.

    De bebês a noventões, todos de celular nas mãos, absortos pelo brilho das telas e da vida que brota do silício e do silêncio. A vida na ponta dos dedos e na corda bamba das incertezas epidemiológicas.

    Há vida em nossas mãos, com certeza. Mas pouca consciência dos riscos que ainda corremos. Aprendemos a andar e voar na velocidade do som, mas falta luz para nos comunicarmos uns com os outros. Como dizia o velho guerreiro, “quem não se comunica, se estrumbica”.

    Continua após a publicidade

    Parece que não aprendemos nada com uma pandemia que matou mais de 6 milhões de pessoas no planeta. O Brasil ocupa o vexatório segundo lugar mundial em número de mortes por Covid-19, somando 705.313 óbitos, os quais podem ser nos dias de hoje evitados por vacinas e tratamento com drogas efetivas disponíveis no SUS.

    De quantas pandemias precisaremos para perceber que, se vivemos em um “one planet”, devemos cuidar da vida com o conceito de “one health”?

    * Carlos Starling é infectologista e autor do livro recém-lançado O Tempo Sem Tempo: 53 Crônicas da Pandemia (Autêntica). Este texto é uma adaptação de uma das crônicas ali publicadas

    Continua após a publicidade
    Compartilhe essa matéria via:
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.