O diabetes gestacional é definido como intolerância à glicose quando diagnosticado pela primeira vez na gravidez. A estimativa é que cerca de 17,8% das gestantes têm a doença, que é a intercorrência médica mais detectada durante o pré-natal.
O Ministério da Saúde recomenda que todas as gestantes devem realizar rastreamento por exame de sangue da glicemia de jejum até as 20 semanas de idade gestacional, sendo que o valor normal deve estar abaixo de 92 mg/dL.
A confirmação diagnóstica ocorre entre 24 e 28 semanas de gestação com o teste oral de tolerância à glicose por meio do indicativo de curva glicêmica após ingestão de 75 g de glicose em 250ml de água em jejum no laboratório, passo repetido após uma hora e novamente após duas horas, sendo que as referências devem ser: jejum ≥ 92 mg/dL; 1h ≥180 mg/dL; e 2h ≥ 153 mg/dL.
Diante disso, qualquer valor alterado indica diabetes gestacional.
O aumento da prevalência do diabetes gestacional está diretamente relacionado às gestações mais tardias e em mulheres com síndrome metabólica, como, quandro que envolve obesidade, resistência insulínica, dislipidemia e hipertensão arterial.
Além disso, sabe-se que mulheres com resistência à insulina, que já apresentaram diabetes gestacional ou tiveram uma gestação anterior na qual o recém-nascido pesava acima de 4 kg têm maior risco de desenvolver pré-eclâmpsia e hipertensão gestacional, algo que chega a acometer até 12% das gestantes com diabetes gestacional.
Daí a importância do diagnóstico da condição no período certo. Deixá-la passar abre caminho a complicações fetais, como ganho excessivo de peso, aumento do líquido amniótico, prematuridade; complicações de parto, com maior necessidade de cesárea ou parto vaginal assistido e maior incidência de lesões do canal de parto e hemorragia pós-parto; e também complicações logo após o nascimento, que podem levar à admissão do bebê na UTI.
A gestante com diagnóstico de diabetes prévio deve, além de realizar pré-natal com obstetra, ter acompanhamento multidisciplinar com endocrinologista, nutricionista e educador físico, que irá contribuir para o controle da glicose por meio da orientação alimentar adequada, mudança de hábitos e inclusão de atividade física regular.
A ideia é, além de controlar a glicemia, acompanhar e intervir em situações como pressão alta e ganho de peso. Além disso, devemos fazer a vigilância do crescimento fetal, do volume do líquido amniótico e da vitalidade fetal a fim de garantir uma gestação segura.
Nos casos em que ocorre alteração materna e/ou fetal, pode ser necessária internação para controle materno e vigilância da vitalidade fetal com cardiotocografia, perfil biofísico fetal e outros exames.
Muitas gestantes podem necessitar da insulina para controle da glicose, assim como medicação para controle da pressão arterial. Uma vez atingido o controle clínico, é possível seguir com o pré-natal e chegar na gravidez que chamamos ‘a termo’, entre 37 e 42 semanas, para indicação obstétrica quanto à via de parto.
Nas gestantes que têm a vitalidade fetal alterada e/ou o controle clínico que não se estabiliza, pode ser necessário antecipar o parto.
No pós-parto, a maioria das puérperas com diabetes gestacional volta à condição de normalidade de antes da gravidez. De qualquer forma, é importante que toda gestante que teve diabetes gestacional seja orientada a fazer controle periódico da glicose pelo risco aumentado de desenvolver o diabetes tipo 2 ao longo da vida.
* Mario Macoto Kondo é ginecologista e coordenador de Obstetrícia de Alta Complexidade do Grupo Santa Joana