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Pesquisas clínicas são cruciais para avançarmos na luta contra o câncer

Estudos não só abrem caminho a mudanças nos tratamentos como também favorecem acesso a inovações científicas no Brasil

Por Antonio Carlos Buzaid e Jéssica Ribeiro Gomes*
Atualizado em 16 Maio 2024, 00h02 - Publicado em 7 jun 2023, 09h00

Nenhum tratamento surge de uma hora para outra. Todos os medicamentos, desde os analgésicos mais simples até as terapias oncológicas mais complexas, precisam passar por vários anos de estudos até comprovarem seus benefícios e serem disponibilizados à população.

A pesquisa clínica é uma importante área da medicina que se dedica a estudar a eficácia e a segurança de tratamentos e procedimentos médicos em seres humanos. Seu objetivo principal é fornecer evidências sólidas para a tomada de decisões na área médica.

É a pesquisa clínica que permite responder perguntas como: o medicamento funciona? Quais são seus efeitos colaterais? Ele é melhor do que as outras terapias para essa doença? Por esse motivo, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de novos tratamentos, além de novos métodos de diagnóstico e estratégias de prevenção de doenças, sendo extremamente importante para o avanço da medicina.

Exemplos icônicos da atuação da pesquisa clínica nos últimos anos foram o desenvolvimento das vacinas contra o Covid-19 e a evolução da imunoterapia no tratamento do câncer.

+ LEIA TAMBÉM: Tratamentos promissores aumentam sobrevida de pacientes com câncer

Mas como funciona a pesquisa clínica?

Não é qualquer terapia que pode ser avaliada em estudos com seres humanos. Toda pesquisa clínica é precedida por anos de amplas análises em laboratório, quando são testadas inúmeras substâncias e moléculas quanto à sua possibilidade de se tornarem medicamentos no futuro.

Somente as que se mostram promissoras podem passar para os estudos em humanos, os quais devem então seguir quatro etapas consecutivas, chamadas de fase I, II, III e IV.

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• Fase I:
Este é o primeiro estágio de uma pesquisa em seres humanos, sendo feito com um pequeno grupo de voluntários, geralmente sadios (com raras exceções, como nos estudos envolvendo câncer). O objetivo é avaliar a dosagem segura do medicamento em estudo, a sua via de administração e o seu efeito sobre o corpo humano. Aproximadamente 70% dos estudos de fase I demonstram resultados favoráveis e podem seguir para a fase II.

• Fase II:
Nesta etapa, avalia-se um grupo maior de pessoas (geralmente dezenas), todas portadoras da doença em questão. O objetivo consiste em analisar a atividade desse novo tratamento e os seus efeitos colaterais a curto prazo. Cerca de um terço das terapias estudadas mostra-se segura e benéfica e prossegue para os estudos de fase III.

• Fase III:
Os estudos de fase III são de larga escala, geralmente com inclusão de centenas e até milhares de pacientes portadores de uma determinada doença. Nesta etapa, o novo tratamento é comparado diretamente com uma terapia padrão já existente para a doença em análise.
O objetivo principal é confirmar a eficácia do produto em relação a esse tratamento padrão, além de avaliar a sua segurança a curto e a longo prazo em uma população mais ampla. Cumprindo isso, a terapia pode ser aprovada pelas agências regulatórias (como a Anvisa no Brasil) após resultados favoráveis nos estudos de fase III.

• Fase IV:
Nesta etapa, o tratamento é avaliado após já estar aprovado pela agência regulatória e comercializado para a população geral. O objetivo é monitorar a eficácia e a segurança no longo prazo, com vigilância de reações adversas novas ou inesperadas.

É muito importante destacar que toda pesquisa clínica, no Brasil e no mundo, tem de seguir rigorosos padrões científicos e éticos para garantir a segurança e os direitos dos participantes, bem como a confiabilidade dos resultados obtidos.

Existem muitos benefícios em se voluntariar para participar de um estudo clínico. Além de contribuir para o desenvolvimento de novas terapias, o paciente tem a possibilidade de acesso a tratamentos inovadores para a sua doença, os quais muitas vezes só estarão disponíveis para uso fora do ambiente de pesquisa após muitos anos, após aprovação da Anvisa e incorporação nos sistemas público e privado.

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Outro benefício é a segurança de ter a sua saúde monitorada com regularidade e precisão durante toda a participação. Ademais, no Brasil, todos os tratamentos e procedimentos diretamente relacionados ao estudo não têm ônus algum para o paciente, pois são custeados pela própria pesquisa.

Podemos entender, então, que a pesquisa clínica é extremamente importante para a população e para o avanço da medicina. Por meio dela desenvolvemos novas opções de tratamento, diagnóstico e prevenção que sejam eficazes e seguras para o ser humano.

Participar de uma pesquisa clínica significa contribuir para esse desenvolvimento e para o tratamento da sua própria doença. Por isso, se houver a oportunidade, não tenha receio de participar desses estudos.

* Antonio Carlos Buzaid é oncologista e diretor médico do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e fundador do Instituto Vencer o Câncer; Jéssica Ribeiro Gomes é oncologista clínica da Rede Meridional (ES)

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