É fato: inúmeras pesquisas demonstram que os homens têm pior saúde física em comparação às mulheres, devido a um estilo de vida menos equilibrado e à negligência com a prevenção de doenças. Um dos estudos que traz essa conclusão, amparado em dados populacionais, é realizado pelo National Mental Health Development Unit, nos EUA.
A maior vulnerabilidade masculina se confirma por maior número de desaparecidos (73% são homens), sem teto (90% são homens), dependentes químicos (3 vezes mais homens que mulheres) e mortes por abuso de drogas e suicídio (dois terços são homens).
Dentre as crianças que abandonam a escola, 80% são meninos, os quais têm pior desempenho que meninas em todos os níveis educacionais. Tendo menos suporte de amigos, família e comunidade, também incidem mais em comportamentos antissociais (87% dos crimes violentos são praticados por eles), o que se agrava com dependência de álcool, uso de drogas ou transtornos da personalidade.
Por outro lado, estresse pós-traumático, ansiedade, pânico, transtornos alimentares, cefaleia, demências e depressão acometem mais mulheres, apesar de autismo e transtorno de déficit de atenção serem mais comuns entre eles.
Há décadas, estuda-se o papel dos hormônios sexuais na dor. A inibição da dor está diretamente associada ao nível de testosterona (hormônio masculino) circulante, que parece exercer efeito analgésico, o que favorece os homens. Pessoas transexuais submetidas a hormônios, para adquirir características físicas do sexo oposto, apresentam resposta invertida à dor, corroborando essa hipótese.
Mas quando o foco são disfunções sexuais, homens e mulheres se ressentem de prejuízo à libido e ao desempenho, provocados por doenças, além de conflitos relacionais e dificuldades do cotidiano. Assim, a falha da ereção, no homem, e do desejo sexual, na mulher, são condições que comprometem o sexo, quando ambos envelhecem mal.
Cerca de metade dos homens maduros não está satisfeita com a qualidade de sua ereção. A ejaculação precoce, no entanto, acomete todas as idades, numa prevalência de 25 a 30% da população masculina adulta. Independentemente de nível educacional, situação geográfica ou financeira e estado conjugal, essa disfunção se apresenta desde o início da vida sexual (ejaculação precoce primária) ou após um período funcional (ejaculação precoce secundária), seguido de trauma emocional ou físico e até sem motivo aparente.
Diferentemente do que ocorre com o tratamento para disfunções sexuais femininas, homens com o problema já contam com recursos efetivos e adaptáveis a cada perfil de hábitos sexuais (mais frequentes ou esporádicos). A ejaculação precoce, pro exemplo, já tem controle, pela associação de terapia sexual e medicamentos, utilizados diariamente ou sob demanda, uma hora antes da relação. O mesmo se aplica à disfunção erétil.
De novo, um contraste e um paradoxo (pelo menos para casais heterossexuais): existe remédio, mas só para eles? É assunto para refletir, até porque, em alguns contextos, se eles se controlam, elas também se beneficiam!
* Carmita Abdo é psiquiatra e professora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)