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O papel da música nas salas de cirurgias

Diversos estudos mostram que a música, independente do estilo, favorece um melhor ambiente nas salas de cirurgia

Por Raul Cutait
6 mar 2017, 12h39
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  • Na sala de cirurgia, ao contrário do que muitos pensam, as coisas não acontecem em clima de silêncio sepulcral. Na verdade, é comum os ruídos estarem muito decibéis acima do aceitável. Os motivos são vários, a começar pelo ar condicionado, indispensável nos centros cirúrgicos mais modernos. Por outro lado, as salas atuais tendem a ter equipamentos que fazem algum grau de barulho: o aparelho de anestesia, a manta térmica, o laparoscópio, o aspirador e outros mais.

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    O assunto não para por aí: abrir as caixas de cirurgia e desempacotar o material esterilizado faz barulho; as pessoas se comunicando entre si piora a situação; anestesistas ou circulantes batendo papo também é um problema. A equipe cirúrgica comumente conversa entre si, discutindo as condutas em relação ao caso que está sendo operado ou, não raro, falando de coisas não correlatas, tais como futebol, algo que aconteceu na cidade ou no país, dentre outros assuntos com menos ibope.

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    Aí o leitor pode se perguntar se, quando isso acontece ,não estarão cirurgiões se distraindo e, por isso, cometendo erros? Para alguns, conversar é a maneira de, ao mesmo tempo em que se concentram, criar um mecanismo que diminua o nível de tensão que faz parte de qualquer cirurgia, mas concordo que há aqueles que exageram. E a música? Para muitos cirurgiões é um pano de fundo, que pode causar um certo relaxamento e, por que não, lembrá-los que eles também são mortais, apesar de estarem com a vida de outras pessoas em suas mãos? Existem estudos sérios mostrando que a música favorece um melhor ambiente nas salas de cirurgia, independentemente do estilo musical.

    No meu caso, tenho um tremendo dissabor com barulho na sala de cirurgia. Começo pelo paciente: nem todos nela adentram completamente sedados; quando isso não acontece, sei que para eles essa sala representa um ambiente inóspito, numa situação não rara de insegurança emocional. Assim, acredito que o ambiente de agitação que a somatória dos ruídos e das conversas pode gerar é totalmente inapropriado. Portanto, solicito que não se converse antes do paciente dormir e que as aberturas de caixas e de materiais sejam realizadas da forma a mais silenciosa possível. Na verdade, quero que os muitos dos procedimentos que geram ruídos aconteçam antes do paciente chegar à sala cirúrgica ou, então, depois que tiver sido anestesiado.

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    Em relação a mim: gosto do silêncio durante as operações, pois acho que assim me concentro melhor; tolero, e apenas tolero, aqueles ruídos inevitáveis dos aparelhos. Opero mudo e todos que estão na sala de cirurgia sabem que prefiro que não conversem e falem apenas o essencial.

    E onde entra a música? Ainda com meus 30 e poucos anos, acostumei-me a operar ouvindo música clássica, em especial Mozart, que me trazia a sensação de alguém que resolvia os mistérios das notas e, no meu imaginário, acompanhava-me como uma fonte de inspiração. Sua música era sempre um pano de fundo. Em alguns momentos não ouvia nada, enquanto que, em outros, suas incríveis composições refrescavam meus neurônios.

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    Hoje sou mais eclético quanto aos compositores e nem sempre opero ouvindo música, reservando-a para cirurgias mais longas. Em geral espero o paciente dormir para ligar o som, mas gostaria de compartilhar uma experiência inusitada que vivi quando ia operar um grande maestro. Ele já estava na mesa de cirurgia, sedado, mas ainda não anestesiado, quando a técnica de enfermagem inadvertidamente ligou o aparelho de som, baixinho. No mesmo momento, o maestro, bastante sonolento, começou a reger com suas mãos e a cabeça a sinfonia de Mozart que começara a tocar. Sublime interação entre o paciente e o cirurgião pela música!

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    (Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

     

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