O efeito zoom na autoestima
Mulheres que manifestavam características de auto objetificação descreveram maior insatisfação com a própria imagem em videochamadas
Em 2018 o Magazine Luiza pronunciou-se sobre mensagens recebidas em seu site com conteúdo de assédio sexual direcionadas a sua assistente virtual de vendas. Sim, um personagem fictício, criado para fins comerciais, teve a imagem objetificada em apelo sexual por pessoas reais. A vítima neste cenário não existe, mas o assédio sofrido por mulheres diariamente é real. O que a ciência nos mostra é que o desafio da mulher contemporânea em se proteger da tendência da sociedade (o que inclui ela própria) em objetificá-la é muito maior e traz mais repercussões psíquicas do que poderíamos imaginar.
Consideramos um comportamento humano natural a busca de aprovação por outras pessoas pela aparência. Pessoas preocupam-se com sua apresentação física para ganhos dentro de suas relações profissionais e pessoais. A relação das pessoas com sua própria imagem sofreu modificações em uma velocidade frenética desde a revolução experimentada pela comunicação nos últimos 30 anos, criando uma complexa e intrincada interação humana no plano virtual. Estima-se que mais da metade da população mundial participe de algum tipo de rede social. Isso permite haver aumento significativo das vivências de exposição e, por conseguinte, de objetificação de tais vivências.
Os atributos físicos do indivíduo passam a defini-lo como identidade e a própria pessoa passa a analisar a si de um ponto de vista observacional, enfatizando seus atributos corporais em detrimento de suas características psicológicas.
Uma consequência possível disso é a experiência negativa relacionada à vivência do próprio corpo, no qual a mulher pode apresentar sensação de insatisfação com sua aparência e isso repercutir no aumento de seus índices de ansiedade, no surgimento de distúrbios da imagem corporal, fragilidade na autoestima, além de sintomas de humor, transtornos alimentares e quadros de disfunção sexual.
Durante a pandemia da Covid-19 observou-se a intensificação da experiência de videochamadas em atividades de trabalho, educacionais e de lazer. Com isso, houve aumento tanto da vivência de exposição visual – situação potencial de objetificação – como da visão de si mesmo – situação potencial de auto objetificação e de comparação da própria aparência com outros. Apesar da preocupação inicial, os estudos realizados n demonstraram que as mulheres em geral não apresentaram maior tendência a descontentamento com a própria aparência em decorrência do maior tempo envolvidas em videochamadas, todavia aquelas que já referiam características de auto objetificação descreveram maior insatisfação com a própria imagem, além de maior dificuldade de concentração.
Tais questionamentos e constatações levam-nos a refletir sobre os cuidados necessários para uma vida mais saudável. A atenção com a autoimagem é importante, desde que não nos tornemos reféns de nossa própria imagem. Atente-se às vivências em primeira pessoa e não em ser um personagem de si mesmo. Mais vale uma lembrança permeada de emoção em nossa memória do que uma selfie com filtro de celular de um momento especial e esquecido em alguma postagem de rede social. Viver é aqui e agora.
REFERÊNCIA:
– Chen S, van Tilburg WAP, Leman PJ. Self-objectification in women predicts approval motivation in online self-presentation. British Journal of Social Psychology (2022), 61, 366-388. DOI:10.1111/bjso.12485
– Pfund GN, Hill PL, Harriger J. Video chatting and appearance satisfaction during COVID-19: Appearance comparisons and self-objectification as moderators. Int J Eat Disord. 2020; 53(12): 2038-2043. DOI: 10.1002/eat.23393