Lipedema: emagrecer é suficiente para controlar a doença?
Novo estudo analisa o impacto da perda de peso no controle do quadro, marcado pelo acúmulo de gordura na região das pernas. Especialista comenta

Cada vez mais comentado na internet, mas ainda pouco conhecido de fato pelas pessoas, o lipedema é uma condição caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura nas pernas que afeta cerca de 12% das mulheres.
Sabemos que a falta de conhecimento sobre o lipedema leva a diagnósticos incorretos, o que atrasa o início do tratamento, aumenta a progressão da doença e, consequentemente, faz com que a paciente sofra física e emocionalmente.
Esse acúmulo de gordura não é apenas um problema estético, mas causa dor. No lipedema, o aumento acentuado do tecido adiposo subcutâneo acarreta maior inflamação e fibrose, além de prejudicar a circulação microvascular e linfática.

Mas é só emagrecer para resolver? Calma lá. Um novo estudo, publicado no periódico da American Diabetes Association, mostra que a perda de peso é a terapia de primeira linha para o tratamento, mas ainda assim apresenta efeito limitado nas dores e inflamações.
Em alguns casos, o tratamento cirúrgico é indicado, mas deve sempre ser acompanhado do tratamento clínico, com dieta com perfil anti-inflamatório, atividade física específica, terapia física complexa e protocolos com medicamentos.
No estudo, os pesquisadores avaliaram a composição corporal, a sensibilidade à insulina, a saúde metabólica e a biologia do tecido adiposo em mulheres com obesidade e lipedema antes e depois da perda de peso moderada (aproximadamente 9% de redução de peso) induzida por dieta.
Resultados: o emagrecimento melhorou a sensibilidade à insulina e diminuiu a massa gorda total (abdominal e das pernas). Apesar disso, não houve alterações nos marcadores de inflamação e fibrose.
Esses resultados demonstram que o tecido adiposo afetado em mulheres com lipedema, além da inflamação e fibrose, promove alterações na biologia linfática e vascular. E, para conter a dor e a inflamação, é preciso lançar mão de outras estratégias. No caso da cirurgia plástica, a lipoaspiração ganha espaço e impede a progressão da doença.
A cirurgia é indicada quando a paciente não apresentou melhora após tratamento clínico por mais de seis meses, ou quando a doença se encontra em estágios iniciais com muita queixa de dor ou ainda quando há uma queixa estética muito mais importante do que a queixa funcional.
A técnica utilizada vai variar de acordo com cada caso. Por exemplo: se a retirada da gordura tem altas chances de resultar em flacidez, podemos realizar a lipoaspiração com plasma, que aquece e provoca uma retração na pele.
Antes e após a lipoaspiração, é necessário incluir bons hábitos na rotina, como praticar exercícios físicos regularmente, ingerir pelo menos 2 litros de água por dia e manter uma alimentação balanceada, consumindo uma grande quantidade de frutas, legumes e verduras e evitando alimentos processados e ricos em gordura, sódio e açúcar.
O lipedema é uma condição constitucional que necessita de bons hábitos para ajudar no tratamento e evitar a progressão da doença. Temos diversas estratégias para controlar o problema, e elas podem atuar em conjunto. Desconfie das soluções simples e milagrosas.
* Heloise Manfrim é cirurgiã plástica e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, além de autora do livro Lipedema: uma abordagem além da superfície