O glaucoma é a maior causa de cegueira irreversível no mundo. Pesquisas indicam que entre 1 e 2% da população mundial convive com a doença – e, até 2040, serão mais de 111,8 milhões de pessoas.
Somente no Brasil, são mais de 2,5 milhões de cidadãos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG). Esse problema ocular não tem cura, mas pode ser evitado, poupando um grande número de indivíduos dos danos provocados por um mal silencioso.
Qual é, então, o X da questão? Para início de conversa, a falta de informação de qualidade, baseada em evidências científicas. Um estudo conduzido por pesquisadores ligados à SBG, com 1.636 indivíduos, constatou: 90% desconheciam que já apresentavam traços da doença.
Isso significa que precisamos conscientizar melhor a população a respeito, um dos motivos pelos quais desenvolvemos, junto ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a campanha 24 horas pelo Glaucoma para o dia 20 de maio. Outro ponto: em vez de confiar em qualquer conteúdo oferecido pelos sites de busca na internet, certifique-se de se informar em páginas confiáveis de conteúdo sobre saúde.
Um segundo fator está relacionado à falta de periodicidade na visita ao oftalmologista. O Brasil tem uma das maiores redes de atendimento público de saúde, o SUS. Nos últimos quatro anos, o sistema foi sucateado, mas, mesmo assim, ainda é possível fazer pelo menos uma consulta gratuita com oftalmologista por ano.
Esse cuidado, porém, acaba sendo negligenciado. E sem o tradicional “exame de vista”, fica mais difícil detectar os primeiros sinais do glaucoma. Cabe lembrar que até bebês devem ser avaliados, com o teste do olhinho.
Muitas vezes, quando os pacientes chegam ao consultório, a doença já se instalou e provocou lesões no nervo óptico que não podem ser revertidas. O comprometimento da visão abre caminho a outros problemas de saúde. Considerando que o glaucoma atinge mais os indivíduos acima de 40 anos, pode-se pensar, por exemplo, no quanto está relacionado a tombos. No Brasil, as quedas são a terceira maior causa de mortalidade de pessoas com mais de 65 anos.
É durante a consulta oftalmológica que se mede a pressão intraocular (PIO). Graças a esse exame, que leva 2 minutos, podemos detectar o glaucoma. Conhecer o valor da PIO é um fator relevante no diagnóstico precoce da doença.
Em tese, a PIO varia de 10 mmHg a 21 mmHg. Portanto, quando o oftalmologista informa que está tudo bem com a pressão intraocular, provavelmente a medição ficou nessa faixa. O problema é que a PIO pode variar na zona de normalidade, e alterações funcionam como um primeiro indicativo do surgimento da doença.
Quem tem um profissional de referência talvez não precise se preocupar tanto. Já o paciente que vai ao oftalmologista sem regularidade ou que usa serviços em que há rodízio de médicos, precisa saber o valor da sua PIO. Assim, em uma próxima consulta, terá como informar esse número tão importante a quem lhe atender.
Informação científica comprovada, consulta ao oftalmologista e PIO registrada. A combinação desses três fatores é o melhor caminho para diagnosticar o glaucoma e prevenir seus danos irreversíveis à visão.
* Roberto Pedrosa Galvão Filho é oftalmologista e presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG)