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Formação médica em crise

Má qualidade de cursos de medicina no país impacta sistema de saúde e atendimento adequado aos pacientes

Por Antonio José Gonçalves*
28 ago 2024, 08h00
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  • três médicos discutindo. dois estão sentados e uma médica em pé
    Não basta ampliar a quantidade de médicos formados sem prezar pela qualificação deles, defende especialista (Divulgação/Divulgação)

    A saúde brasileira enfrenta um grande desafio: a má formação médica. Uma das principais causas é a educação oferecida atualmente pelas escolas de medicina, que por vezes parecem prezar mais pela quantidade de matriculados do que pela qualidade de ensino.

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    Hoje, 389 instituições oferecem graduação em medicina, sendo que quase 200 foram abertas nos últimos dez anos. A imensa maioria delas não atende a critérios básicos para a formação do aluno, como a existência de leitos do SUS para a prática médica, programas de residência, hospital de ensino e corpo docente qualificado.

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    Cerca de 80% dessas faculdades não cumprem pelo menos um desses requisitos, conforme nota emitida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

    Após a graduação, o próximo passo é a pós-graduação lato sensua residência médica -, essencial para lapidar e dar consistência à formação do médico. Hoje, porém, com a abertura irresponsável de inúmeros cursos, formam-se aproximadamente 40 mil jovens todos os anos, e só há vagas para 20 mil residentes do primeiro ano.

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    Nesse cenário, muitos formandos nem buscam fazer residência, seja pela alta concorrência, baixa remuneração ou necessidade de pagar o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) ao término do curso, levando-os a começar a trabalhar rapidamente para quitar suas dívidas, em vez de aprimorar seus conhecimentos.

    A próxima etapa é a especialização. O título de especialista pode ser obtido ao final de uma residência médica credenciada pelo Ministério da Educação, ou por uma prova anual realizada pelas 54 Sociedades de Especialidades do Brasil e chancelada pela Associação Médica Brasileira (AMB).

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    Contudo, algumas instituições de ensino deturpam o conceito, oferecendo pós-graduações com “especialização” ao final de um curso de 360 ou 400 horas, o que não se compara às 2.880 horas anuais de treinamento da residência médica.

    O governo também contribui com o sucateamento do ensino da medicina ao ceder à pressão econômica de grandes grupos educacionais, autorizar o funcionamento de novos cursos privados de má qualidade junto ao programa Mais Médicos e interferir na Comissão Nacional de Residência Médica para aumentar, de forma inconsequente, o número de especialistas no país.

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    Se essa tendência continuar, estima-se que, em 2035, o Brasil terá mais de 1 milhão de médicos, segundo a pesquisa Demografia Médica no Brasil 2023.

    No entanto, isso não garantirá médicos para todos: a distribuição dos profissionais continuará desigual, concentrada em grandes centros. Formar mais médicos, e não melhores médicos, apenas levará ao declínio da qualidade do atendimento à população.

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    Um médico com formação ruim onera o serviço de saúde como um todo, pois pode demorar mais para chegar a um diagnóstico e até mesmo solicitar exames desnecessários, o que gera altos custos tanto para o indivíduo quanto para o sistema, desperdiçando recursos.

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    Em meio a circunstâncias tão graves, formas de minimizar suas consequências seriam: aplicar um exame de proficiência obrigatório para egressos das escolas de medicina, aos moldes do realizado pela OAB para futuros advogados; criar uma carreira de Estado para o médico, que levaria a uma distribuição mais adequada pelo país; e evitar a interferência governamental na tentativa de aumentar o número de especialistas sem qualificação.

    Dessa forma, conseguiríamos registrar quão capacitados os estudantes estão e acompanhar a qualidade da formação médica – que hoje, lamentavelmente, está em crise.

    * Antonio José Gonçalves é cirurgião e presidente da Associação Paulista de Medicina (APM)

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