Enxaqueca não é qualquer dor de cabeça
Mais de 1 bilhão de pessoas sofrem com o problema, especialmente mulheres. Entenda o que está por trás das crises
Existem mais de 150 dores de cabeça diferentes, e a maioria delas é sintoma de uma outra doença, como uma gripe, ou tem origem tensional. A enxaqueca é um caso à parte. Ela é a própria doença.
Esse tipo de cefaleia geralmente se manifesta de um dos lados da cabeça, tem característica latejante ou pulsátil e vem acompanhada de incômodo pela luz e pelo barulho (fotofobia e fonofobia, respectivamente), além de náuseas e/ou vômitos.
Os fatores desencadeantes mais comuns para as crises são determinados tipos de alimentos e bebidas, tais como queijos, chocolate, bebida alcoólica e café; cheiros fortes, como de produtos de limpeza ou cosméticos; estresse, jejum prolongado e sono irregular.
Uma vez instalada, a crise pode durar de 12 horas a três dias. E, quando acontece por mais de 15 dias em um mês, temos o que chamamos de enxaqueca crônica.
As dores intensas podem limitar a realização das atividades rotineiras, comprometendo a qualidade de vida e a capacidade funcional. O quadro crônico acomete pessoas de qualquer idade, mas acaba sendo mais comum em adultos até os 50 anos, justamente a fase mais produtiva da vida. E as mulheres, entre 18 e 50 anos, são as que mais sofrem com a doença.
A origem exata do problema ainda não é conhecida, mas sabe-se que a enxaqueca crônica tem na predisposição genética um fator importante para o seu surgimento. Nas mulheres, também há um forte componente hormonal.
Para evitar as crises constantes, é necessário identificar os gatilhos e optar por uma alimentação saudável, rica em proteínas magras, frutas e verduras e evitar o excesso de chocolate, bebida alcoólica, alimentos processados e embutidos. Parar de fumar, controlar o estresse e praticar exercícios regularmente são outras medidas bem-vindas, assim como a adoção de técnicas de relaxamento, ioga, meditação e respiração profunda.
A enxaqueca crônica não tem cura, mas pode ser controlada, desde que o paciente tenha um diagnóstico correto e evite a automedicação. Alguns acabam apelando a analgésicos de fácil acesso, que podem, na verdade, aumentar e prolongar as crises.
Hoje existem medicamentos orais para quando a dor surge e terapias injetáveis para evitar as crises, incluindo a toxina botulínica, aplicada em determinados pontos para relaxar a musculatura da região. O melhor tratamento deve ser alinhado caso a caso com o especialista. O que vale, de forma geral, é o ditado: na enxaqueca, é melhor prevenir do que remediar.
* Tatiane Barros é neurologista e membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia