A doença diverticular é uma afecção em que ocorrem pequenas herniações da mucosa do intestino grosso através de sua parede muscular. É mais frequente nos países industrializados do ocidente, onde é encontrada em cerca de 10 a 20% da população, em geral após os 50 anos de idade. Já em países subdesenvolvidos da África e da Ásia, sua incidência é muito baixa. A doença diverticular pode se manifestar de duas maneiras: por sangramento, o que é mais comum em idosos, ou por infecção algo que se observa habitualmente em adultos mais jovens, decorrente da perfuração de algum divertículo, quadro esse denominado de diverticulite aguda. Em tempo, essa não foi a doença que matou Tancredo Neves!
A manifestação clínica da diverticulite aguda depende da forma como ela se manifesta. A mais comum, felizmente, é a forma não complicada, em que o processo infeccioso fica restrito à região do divertículo que perfurou, o que a difere da forma dita complicada, em que a perfuração do divertículo pode causar peritonite por pus ou por fezes; alguns pacientes formam abscessos localizados ou até mesmo obstrução pela inflamação da parede do intestino grosso. Em pequeno número de pacientes a perfuração forma uma fístula para a bexiga ou outros órgãos.
Como se diagnostica a diverticulite aguda?
Tudo começa pelo quadro clínico, no qual/em que as pessoas comumente apresentam dor na metade inferior do lado esquerdo do abdômen, de início súbito, que pode ou não se espalhar por todo o abdômen. Cólicas e febre podem estar presentes. Ao exame físico o paciente sente dor à palpação profunda da região e, com frequência, uma espécie de choque quando se solta subitamente o abdômen. Outras doenças podem ter sinais e sintomas semelhantes, tais como apendicite aguda, infecção urinária, infecção ginecológica, infecção intestinal, cisto de ovário roto, gravidez ectópica, apendagite (inflamação de uma gordura da superfície do intestino grosso). O exame de eleição para se diagnosticar a diverticulite aguda é a tomografia computadorizada de abdome. O hemograma deve ser realizado de rotina, a fim de se detectar a presença de infecção mais acentuada.
Se o quadro é de diverticulite aguda não complicada: o que fazer?
Na maioria das vezes, a dor é relativamente suportável e o tratamento consiste no uso de analgésicos, antiespasmódicos e dieta rica em fibras vegetais. O uso de antibióticos, até recentemente dogmático, tem sido mais recentemente preconizado quando o paciente apresenta febre, dor muito intensa ou hemograma infeccioso. Habitualmente, ocorre melhora dos sintomas em dois a três dias. Cerca de 20% de todos os pacientes que apresentam diverticulite aguda não complicada podem ter uma ou mais crises. A tendência é manter o mesmo esquema de tratamento, salvo se essas crises interferirem com a qualidade de vida, quando a cirurgia se impõe, consistindo na ressecção do segmento doente do intestino (em geral é o sigmoide). Alguns pacientes, após uma ou mais crises, referem cólicas frequentes e dor abdominal, o que pode caracterizar a forma intratável da diverticulite, que pode requerer cirurgia (ressecção do segmento doente).
E se o quadro é de diverticulite aguda complicada: o que fazer?
Essa situação ocorre em 10% de todos os casos de diverticulite aguda, e aí a resposta é também complicada. Quando ocorre perfuração com peritonite generalizada com pus, as condutas podem ser: ressecção do segmento do cólon afetado, com reconstrução do trânsito intestinal (costuram-se na mesma operação as duas bocas intestinais, o que se chama de anastomose), ressecção exteriorizando-se a boca proximal (que é a colostomia) ou simplesmente fazer-se a lavagem da cavidade abdominal e sua drenagem, para que num tempo posterior se faça ou não a ressecção do intestino. Se a peritonite é por fezes que contaminaram o abdômen, a conduta é ressecção com anastomose das bocas intestinais ou a exteriorização do cólon (colostomia). Todas essas condutas têm seus prós e contras, devendo-se levar em conta as condições do paciente, as condições de atendimento e a experiência do cirurgião. Quando se forma um abscesso volumoso, este pode ser puncionado em um primeiro momento e o paciente poderá ser operado semanas ou meses mais tarde sem infecção presente. Nos casos de obstrução, indica-se a cirurgia, que consiste na ressecção com anastomose, sendo que o mesmo vale para os casos de fístulas.
Cirurgia aberta ou por laparoscopia?
O padrão-ouro para cirurgias programadas é a laparoscopia com via de acesso; nos casos de urgência, em geral também é possível realizá-las por laparoscopia. Contudo, têm de ser respeitadas a experiência e a preferência do cirurgião. Costumo enfatizar em minhas aulas e palestras sobre o tema que o compromisso do cirurgião é com o resultado, e não com a via de acesso.
Quais são os principais mitos e crendices em relação à doença?
Os principais: 1) quem tem doença diverticular não pode comer nada com semente. Inverdade! Sementes não interferem em nada; 2) dieta rica em fibras evita a diverticulite. Inverdade! Dieta rica em fibras permite um melhor funcionamento do intestino e maior bem-estar para as pessoas, mas não se comprovou seu efeito preventivo para doença diverticular.
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Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Paulo Zogaib, medico do esporte
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil – cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
Sergio Simon, oncologista