Sempre faço questão de relembrar que as drogas não afetam apenas a saúde do usuário. O Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família), conduzido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas de Álcool e Drogas (INPAD), trouxe um dado alarmante: nos anos de 2012 e 2013, para cada dependente químico, outras quatro pessoas eram afetadas pelo uso de drogas. Isto não é pouco.
Mas quem são essas pessoas? Baseado nesta pesquisa e em décadas de experiência profissional, posso dizer que, em sua maioria, são os familiares mais próximos do dependente químico. Muitas vezes, tratam-se dos pais do usuário que, já adulto, possui inclusive filhos. Com isso, essas pessoas acabam cuidando não apenas de seus próprios filhos, mas também dos netos, assumindo uma responsabilidade gigantesca em uma fase avançada da vida, seja ela no aspecto pessoal ou financeiro.
Sem apoio
O curioso é que quando pesquisamos sobre políticas de drogas no Brasil, encontram-se poucas estruturas de apoio aos familiares dos dependentes químicos. Em nosso país, são poucos os locais que oferecem algum tipo de suporte público a quem se encontra nesta situação. Imagine a vulnerabilidade à qual são expostos avós e filhos de usuários de drogas em tratamento ou sem condições pessoais que, de uma forma ou de outra, encontram-se temporariamente impossibilitados de cuidar de si mesmo e de suas responsabilidades?
Sem sombra de dúvidas, a família é um dos pilares na luta contra a dependência química. Porém, afetada pelo problema em diversos aspectos, também necessita de apoio do poder público, tanto quanto os próprios usuários. Assim, acolher, orientar e apoiar os familiares de dependentes, oferecendo suporte social e acesso a informações sobre tratamento, palestras, atendimentos individuais e terapia em grupo é tão importante quanto oferecer a reabilitação ao uso de drogas.
Papel de informar
Além disso, existe outro aspecto que deve ser considerado. No caso de avós e familiares mais velhos, por uma série de fatores (que vão desde a formação e valores pessoais até acesso a informação), estamos falando de um público que age como agente intermediário de prevenção, que atua entre o Estado e a população, principalmente na disseminação de informações contra o consumo de entorpecentes. Tal fato reforça a importância de serem criadas estratégias voltadas para minimizar o impacto provocado pela dependência na vida dessas pessoas.
Oferecer recursos para que os familiares do dependente possam obter qualidade de vida minimiza inclusive as chances do desenvolvimento de doenças e até transtornos emocionais, decorrentes do impacto da convivência com o familiar usuário, uma situação que não é simples de ser administrada. No final, tais recursos servirão para preservar as pessoas que, sem querer, se vêem envolvidas em uma situação muito complicada, além de serem mais um importante fator para a reabilitação de quem consome drogas. Um efeito cascata em que todos acabam ganhando – usuário, familiares e a própria sociedade.
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Eduardo Rauen, nutrólogo
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista