De dieta a terapias hormonais: o que aumenta o risco de câncer de mama?
A prevenção à doença não se restringe ao Outubro Rosa. Especialistas discutem a influência dos hábitos e dos hormônios nessa história
A grande importância do Outubro Rosa se deve ao câncer de mama ser o tumor mais prevalente no mundo entre as mulheres, sendo que mais de 90% de todos esses casos não têm origem hereditária.
Mas, então, qual seria a causa do câncer de mama na maioria das mulheres? E principalmente: podemos fazer algo para diminuir o risco do tumor?
Em geral, não existe uma causa única e definitiva para o surgimento da doença. Na verdade, o que ocorre são diversos fatores pessoais e ambientais que, ao longo da vida, se somam e contribuem para aumentar a probabilidade de o tumor se desenvolver no futuro.
Entre eles, dois têm especial relevância no câncer de mama: os hábitos de vida e certas terapias hormonais. Intervindo nesses dois pilares, temos a oportunidade de reduzir as chances da doença.
É importante deixar claro: hábitos de vida não saudáveis elevam o risco de câncer. E provavelmente são uma das razões para a incidência crescente de tumores de mama em mulheres cada vez mais jovens no mundo inteiro.
Assim, dietas desequilibradas e ricas em carboidratos livres e carne vermelha contribuem para a maior propensão à doença ao expor o organismo a inflamação e elevar os níveis de glicose e de insulina no sangue.
Isso gera um estado inflamatório crônico, estimulando o crescimento e a sobrevivência de células tumorais. De tal forma que a alimentação inadequada é responsável hoje por até 20% dos casos de câncer em países em desenvolvimento como o Brasil.
Também capazes de induzir uma inflamação crônica, o sedentarismo e a obesidade após a menopausa são outros importantes fatores de risco nesse cenário. Em contrapartida, o exercício físico regular possui um papel protetor: um grande estudo populacional que avaliou mais de 1 milhão de pessoas mostrou redução de 10% a 40% no risco de tumores com a prática de alto nível de atividade física recreativa.
Além dos hábitos de vida, algumas terapias hormonais também impactam o risco de câncer de mama, em maior ou menor grau. Anticoncepcionais orais e o DIU hormonal, por exemplo, podem aumentar um pouco a chance de o tumor aparecer, a depender do tempo de uso.
Já com relação à reposição hormonal na menopausa, o maior risco está relacionado ao uso da combinação dos hormônios estradiol e progestágeno, principalmente por muitos anos – estratégia que felizmente vem sendo menos utilizada.
Por outro lado, o impacto da reposição com estradiol isolado ainda não está totalmente claro. Por isso, é fundamental sempre discutir com o médico sobre os prós e contras dessas terapias e, certamente, evitar seu uso prolongado.
É essencial enfatizar, por fim, que ter ou não algum fator de risco não dá a certeza de que a pessoa desenvolverá ou não um câncer no futuro, pois esses fatores indicam um aumento na probabilidade, mas não são definitivos. Na verdade, esse é um processo complexo que ainda está sendo amplamente estudado pela medicina.
Em suma, muitos são os fatores de risco para o câncer de mama, o que também significa que muitas são as formas de intervirmos antes que o problema apareça. Nesse sentido, é fundamental adotar um estilo de vida saudável, com alimentação pobre em carboidratos e carne vermelha, atividade física regular e controle de peso, além de manter acompanhamento médico durante qualquer terapia hormonal, caso seja necessária.
Não são atitudes complexas, mas obviamente exigem regularidade, não podendo se restringir ao Outubro Rosa. Afinal, o risco de câncer de mama existe durante o ano todo.
* Antonio Carlos Buzaid é diretor médico do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e fundador do Instituto Vencer o Câncer; Jéssica Ribeiro Gomes é oncologista da Clínica da Rede Meridional (ES)