É fato que obesidade, hipertensão e doenças cardiovasculares caminham de mãos dadas. Daí a preocupação de entidades como a SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – em conscientizar sobre a necessidade de controle do peso e da prática de atividades físicas regulares. Os exercícios aeróbicos são os mais indicados, como caminhada, corrida, ciclismo ou natação, e requerem 30 minutos de cinco a sete dias na semana.
Mas os brasileiros estão na contramão deste caminho. De acordo com levantamento da SOCESP, entre uma população que já não se caracteriza pela prática rotineira de exercícios – 65,8% afirmam ser sedentários – o isolamento social surtiu efeito ainda mais negativo: a maioria dos consultados (44,0%) admite ter feito ainda menos exercícios durante a pandemia do novo coronavírus. O dado é preocupante porque o sedentarismo é um dos dez principais fatores de risco para a mortalidade global, causando cerca de 3,2 milhões de óbitos a cada ano.
Ainda segundo a pesquisa, 44,3% ganharam peso no período de combate à Covid-19. E aqui temos outro sinal de alerta: obesidade e sobrepeso estão diretamente relacionados ao aumento da pressão arterial.
Cerca de 65% dos brasileiros acima dos 60 anos apresentam hipertensão, sendo que as mulheres são as mais acometidas. A doença está associada a 45% das mortes cardíacas e a 51% dos óbitos por doenças como o Acidente Vascular cerebral (AVC). A hipertensão é caracterizada pela elevação persistente da pressão arterial (PA). Em adultos, ela é usualmente diagnosticada pela medida adequada da PA. Quando os valores estão igual ou maior que 140 mmHg (PA sistólica também chamada de máxima) e a mínima (PA diastólica) igual ou maior que 90 mmHg de forma persistente (ou seja, em pelo menos duas ou mais ocasiões diferentes).
O que faz da hipertensão uma arma letal é que, além de ser muito comum, infelizmente grande parte dos pacientes chega tarde ao consultório. Na maioria das vezes, os sintomas só aparecem no estágio avançado, quando órgãos-alvo como o coração, o cérebro, os rins e os olhos já foram comprometidos. AVC, insuficiência cardíaca, infarto agudo do miocárdio, acometimento dos rins e retinopatia (que pode levar à cegueira) estão entre os danos da hipertensão.
Mas a avaliação médica, seja por uma consulta de rotina ou mesmo um check-up, pode prevenir doenças silenciosas como a hipertensão. Porém, se o hábito de ir sem sintomas ao médico não é difundido, imaginem o que ocorreu durante a pandemia: 57,2% dos entrevistados disseram não terem ido às consultas de rotina no período. Quando a pergunta foi sobre consulta cardiológica, 23,2% nunca foram ao cardiologista e 46,8% haviam feito a visita há mais de um ano.
Diante deste quadro, o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, 26 de abril, é um excelente pretexto para colocar luz sobre o tema. Isso porque se a falta de atividade física e a obesidade provocam um efeito dominó que contribui para o descontrole da PA, a recíproca é verdadeira: uma rotina que inclui cuidados médicos, exercícios físicos e alimentação saudável ajudam a manter a pressão em níveis normais, afastando risco de doenças cardiovasculares.
Fórmula de sucesso
A Diretriz Brasileira de Hipertensão recomenda que todos os adultos devem praticar pelo menos 150 minutos de atividades físicas moderadas ou 75 minutos de exercícios mais intensos na semana.
O cardápio adequado é um aliado quando o objetivo é emagrecer de maneira saudável e há várias propostas de dietas que previnem a hipertensão e contribuem para a saúde como um todo, com destaque para a dieta DASH e suas variantes (dietas com baixa quantidade de gordura, dieta mediterrânea, vegetariana/vegana, nórdica, dietas com baixo teor de carboidratos etc.). Vale lembrar que os benefícios da alimentação saudável incluem a redução do consumo de sódio: quanto menos sal, mais saudável será seu prato.
Por essas e outras podemos afirmar que dá para virar o jogo do sedentarismo e da obesidade e, consequentemente, da hipertensão com um dos remédios mais baratos que existem: a mudança de hábitos.
Artigo escrito em colaboração com Ricardo Pavanello, cardiologista e diretor tesoureiro da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, e Luciano Drager, também cardiologista e diretor de Promoção e Pesquisa da SOCESP.
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