Por que os asmáticos devem “ouvir” o pulmão?
No Dia Nacional de Controle da Asma, é bom lembrar que quem sofre com o problema deve se atentar aos riscos como de câncer de pulmão
A asma é uma doença inflamatória crônica que obstrui as vias aéreas. Apesar de não ter cura, os sintomas em uma criança, por exemplo, podem deixar de surgir na fase adulta, dependendo do tratamento e de condições ambientais. De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que 23,2% da população brasileira viva com a doença.
Por isso, nesta quarta-feira, 21 de junho, dia que é celebrado o Dia Nacional de Controle da Asma, reforça-se o alerta de uma possível inflamação nos pulmões. É bom atentar a sinais como tosse, produção excessiva de catarro, secreção nasal, pigarro e dificuldade para respirar. Se isso ocorrer, é importante consultar um pneumonologista. Ainda não há comprovação científica, mas uma inflamação crônica pode influenciar no desenvolvimento de doenças mais graves.
Risco de câncer
Há diversos fatores de risco para surgimento do câncer de pulmão, como o tabagismo, o fumo passivo e o contato com alguns gases tóxicos – e cientistas buscam investigar se a asma pode ter alguma relação com a doença. Um estudo recente, publicado na revista científica Cancer Medicine, com base em uma análise retrospectiva de registros de saúde de mais de 360 mil pacientes nos Estados Unidos, com e sem asma, investigou a associação entre asmáticos e o risco subsequente de câncer.
A pesquisa mostrou que asmáticos têm 36% a mais de risco de desenvolver câncer de pulmão, assim como o de sangue, de pele, de rim e de ovário, se comparados a pacientes que não são acometidos com a doença inflamatória crônica. A probabilidade pode variar de acordo com o uso de medicação, como esteróides inalados ou não, durante o tratamento de asma. Apesar de o estudo ter abrangido mais de 90 mil pacientes com asma, ainda são necessárias pesquisas mais aprofundadas a fim de explorar mais os mecanismos causais da asma no risco de câncer.
Outro estudo, publicado na revista Nature em 2022, mostrou que pacientes asmáticos com câncer de pulmão tiveram um risco alto de mortalidade em comparação com aqueles sem asma. Além disso, foi maior em pacientes asmáticos com câncer de pulmão em comparação com aqueles com outras comorbidades respiratórias. No entanto, também foi constatado que o risco de mortalidade geral em pacientes asmáticos com câncer de pulmão foi semelhante ao de não asmáticos com o mesmo problema. Isso sugere que o próprio câncer de pulmão determina o prognóstico em asmáticos com a doença.
Resultados como esses indicam a necessidade de estratégias para prevenir doenças pulmonares relacionadas ao tabagismo e no manejo de pacientes asmáticos. Apesar dos avanços da ciência relacionados ao tratamento do câncer de pulmão e à qualidade de vida dos pacientes, a taxa de mortalidade é alta.
E para lembrar: a fumaça do cigarro é prejudicial para asmáticos e não asmáticos. Mesmo quando a pessoa não faz uso direto do tabaco, mas convive com pessoas fumantes, é um problema. Os fumantes passivos podem ter aumento na inflamação dos brônquios por conta dessas situações. Além disso, o tabaco prejudica a saúde pulmonar de forma geral e pode desenvolver ou agravar outras doenças. Portanto, a melhor maneira de prevenir o câncer de pulmão é não fumando ou parando de fumar.
*Carlos Gil Ferreira é oncologista, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e do Instituto Oncoclínicas.