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As fake news invadiram a Medicina – e esse é um problema negligenciado

Professor defende regulação nas redes sociais para evitar que pseudoespecialistas vendam promessas infundadas a seguidores em busca de saúde e beleza

Por Raymundo Paraná*
Atualizado em 13 dez 2024, 10h20 - Publicado em 13 dez 2024, 10h18

Desde o surgimento da internet, vários avanços ocorreram na Medicina, principalmente na democratização do conhecimento. Mas a euforia inicial pelo ganho de amplitude e velocidade da informação foi cedendo espaço às preocupações acerca da qualidade, da transparência e dos interesses escusos das notícias disseminadas.

As fake news sobre saúde humana se avolumaram, assim como os modismos e as falsas especialidades médicas surgiram para semear falsos conceitos que ferem a farmacologia e a fisiologia, mas que se adaptaram a uma linguagem inebriante e superficial própria deste novo meio de comunicação.

Já se percebe o adoecimento por desinformação, cuja consequência é pontualmente desastrosa. Cada especialidade fake que surge na internet espalha falsos conceitos para garimpar pacientes desavisados e vender, desavergonhadamente, seus tratamentos nada científicos.

O comércio de suplementos alimentares fúteis disparou, as prescrições de fórmulas fitoterápicas perigosas cresceu assustadoramente e a proliferação de supostos especialistas tornou-se uma constante. A poderosa internet, ferramenta que deveria trazer mais equidade de acesso à informação, passou a ser fonte de confusão e adoecimento.

A chegada das redes sociais, também revolucionária na ciência da comunicação, transformou-se numa ameaça sem precedentes para a ciência médica. Consegue disseminar conceitos e tratamentos infundados com mais velocidade e usa técnicas refinadas de comunicação em massa.

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A desfaçatez da autopropaganda de profissionais que se intitulam especialistas em áreas que sequer existem passou a ser o novo normal. Habitualmente, profissionais sem registros de especialidades (RQE) nos conselhos de medicina e de outras profissões passaram a ser reconhecidos como porta-vozes das mais bizarras pseudoespecialidades.

Além do dano ao cidadão, o sistema público e privado de saúde também sofre pelas solicitações de exames desnecessários e pelo custo do tratamento dos maleficiados por essas práticas.

A chegada da covid 19, no seu desespero inicial, fertilizou terreno para algo tão nefasto quanto a inidoneidade anteriormente citada. Surgia uma medicina ideologizada e comandada por uma plêiade de espalhadores de fake news que, além de tratamentos irracionais, orquestraram uma campanha antivacina.

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A princípio, mirava a covid-19, mas fragmentos da sua artilharia acertaram outras doenças preveníveis. Já estávamos livres de algumas delas que, agora, ameaçam retorno. O que seria um grande avanço, nos trouxe retrocesso!

As fórmulas emagrecedoras, as receitas termogênicas, os shots detox passaram a fazer parte do dia a dia de muitas pessoas inocentes. Cada prescritor tem a sua caríssima formulação, geralmente encaminhada para uma farmácia de estimação. Algo que soa estranho no quesito transparência.

Os anabolizantes passaram a ser prescritos sem dó, sempre justificados com falsos conceitos de reposição hormonal e sonegando os riscos em médio e longo prazo aos pacientes.

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Consultórios se transformaram em oráculos da beleza sob um lucrativo comércio, in loco, de terapêuticas sem evidências, ao arrepio do código de ética médica e sob o manto do “conflito de interesses”. Um bilionário negócio em saúde emergiu para afrontar a ciência, a ética e o bom senso.

Neste momento, faz-se necessária uma legislação regulatória das redes sociais na saúde, urgentemente. Adoecer pessoas de boa-fé está longe de ser liberdade de expressão. Isto é crime!

* Raymundo Paraná é hepatologista, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia

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