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A dura vida das crianças com obesidade

Estudos demonstram que a qualidade de vida delas chega a ser pior que a daquelas com câncer

Por Maria Edna de Melo
19 set 2022, 18h40
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  • O número de crianças com obesidade vem aumentando ano após ano. No Brasil, entre crianças e adolescentes atendidos no Sistema Único de Saúde, 17,4 milhões têm excesso de peso, sendo 7,2 milhões com obesidade, conforme dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde. A obesidade grave quase dobrou em três anos, passando de 1,59% em 2018 para 2,87% em 2021. Anualmente, o estado nutricional de crianças e adolescentes vem se deteriorando. Uma vez que não existem estratégias multissetoriais que promovam mudanças da alimentação, fomentando o consumo de frutas, verduras e legumes e diminuindo o de alimentos ultraprocessados, é muito provável que continuaremos nesse retrocesso em termos de saúde. Mais que boa intenção e educação, para mudar esse quadro é preciso ter coragem e força política.

    Por trás dos números estão crianças que podem ter sua saúde física e mental prejudicadas pela obesidade. Alguns estudos mostram que o aspecto corporal é o principal motivo de bullying, superando estigmatizações que envolvem etnia e gênero. Assim como esses, a obesidade infantil não tem graça. Aliás, em crianças e adolescentes o principal dano sofrido é na saúde psicológica! E isso é tão dramático que estudos demonstram que a qualidade de vida de crianças com obesidade chega a ser pior que a daquelas com câncer. O apoio, o cuidado e o carinho devidos são substituídos por críticas e responsabilização pela causa, além de lhes impor a resolução da condição. Precisa ser lembrado que se está diante de uma criança e que a obesidade é uma condição extremamente complexa.

    A obesidade antecipa doenças comuns em adultos, como diabete melito tipo 2 e hipertensão arterial. Esta acomete quase metade das crianças em busca de tratamento para obesidade. Quanto mais grave a obesidade, mais frequentemente é encontrada a pressão arterial elevada, estando presente em quase dois terços daqueles com obesidade grave e quase metade daqueles com quadro leve.

    A pandemia transformou negativamente a vida de todos e o impacto em crianças e adolescentes não afetou apenas setores como educação e alimentação (houve aumento do consumo de ultraprocessados), mas também na saúde. Nos Estados Unidos, foi observado um aumento de 77% de novos casos de diabete tipo 2. Comparando os pacientes do período pandêmico com dois períodos anteriores, além desse salto nos números, a maior gravidade da obesidade nesses adolescentes é significativa, assim como a apresentação do diabetes, tanto pelos valores de glicemia, como a ocorrência de descompensação metabólica. Não temos dados nacionais.

    A redução da expectativa de vida relacionada com a obesidade está intimamente ligada à sua precocidade e à sua gravidade. Estima-se que quando uma obesidade grave se instala aos 20 anos de idade, ela acarrete uma redução de oito anos de vida, mas, ainda uma perda de quase 20 anos de vida saudável. Não se perde somente vida, mas também qualidade de vida. Não é difícil ver o óbvio: em crianças e adolescentes esse impacto será maior e precisamos prementemente mudar essa curva.

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    E o que fazer diante desse quadro? Para prevenção, urge uma mudança no sistema alimentar. Não podemos esperar outro resultado repetindo as mesmas estratégias. No entanto, mudar a alimentação da população é difícil e complexo, envolve desde a saúde até a economia, passando pela agricultura e pela educação. Daí é preciso um gestor com vontade e para reger essa orquestra. E para cuidar e tratar, jamais esqueçamos que crianças e adolescentes precisam brincar e ser felizes. Ameaçá-los com o que foi exposto acima, infelizmente, é comum e representa ignorância na abordagem e falta de empatia. Esse texto não é destinado para meninos e meninas com obesidade, mas para nós, adultos, pais e cuidadores.

    Para eles, respeito, cuidado e amor.

    Letra de Médico - Maria Edna de Melo
    (./.)
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