A hérnia inguinal afastou 51 856 profissionais de seus postos de trabalho somente em 2023, de acordo com o Ministério da Previdência Social (MPS). O problema reforça a importância de incentivar os trabalhadores a realizar acompanhamento médico, a usar equipamentos de proteção individual (EPIs) e a realizar exercícios físicos para fortalecimento muscular na região do abdômen.
A doença traz prejuízos à vida pessoal e ao mercado de trabalho brasileiro, pois, em geral, orienta-se que os colaboradores deixem de realizar suas atividades de rotina por no mínimo um mês após o procedimento cirúrgico, o tratamento padrão.
A hérnia inguinal ocorre quando a musculatura abdominal da região da virilha se rompe e o espaço é preenchido por órgãos internos próximos, como intestino e bexiga ou pela gordura do abdômen. O problema é consequência do enfraquecimento muscular, que pode ser causado por esforço excessivo em atividades físicas e na hora de defecar ou urinar, tosse crônica – comum entre fumantes – e obesidade. Condições genéticas também podem facilitar o rompimento do músculo.
O problema geralmente é identificado pelo próprio individuo, pois surge um volume arredondado, o abaulamento, na região da virilha. Já o diagnóstico médico é feito a partir de exames físicos e de imagem (ultrassonografia e tomografia). O problema causa dor e queimação na área afetada, além de desconforto no períneo ou no escroto em alguns casos.
Precisam de atenção especial os profissionais que trabalham com atividades de alto impacto, ou seja, que carregam peso constantemente e percorrem longas distâncias. Esses trabalhadores têm mais propensão a desenvolver o quadro; por isso, é essencial que se incentive o uso de EPIs para diminuir o impacto da carga que carregam, além da realização de pausas regulares para descanso e de exercícios de fortalecimento muscular.
Caso sejam fumantes, recomenda-se parar de fumar. Quando estão com obesidade, orienta-se a perda de peso.
É importante lembrar que a hérnia inguinal é um problema progressivo. Então, caso os fatores de riscos permaneçam, mais o abaulamento na virilha aumentará. Existe também o perigo de o órgão ou a gordura estrangular, isto é, interromper a circulação de sangue no local e o tecido necrosar.
O tratamento da hérnia inguinal pode envolver manobra mecânica realizada em ambulatório para devolver o tecido à região a qual pertence ou com cirurgia. No Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), em São Paulo, houve aumento de 115,3% dos procedimentos cirúrgicos relacionados a essa doença.
De acordo com o Ministério da Saúde, por meio do Sistema de Informações Hospitalares e Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2024, foram realizadas 46.934 internações relacionadas à hernia inguinal entre janeiro e março. O ministério indica também que, entre janeiro de 2019 e março de 2024, foram 724 250 internações realizadas por esse motivo no país.
Durante a recuperação do procedimento, é indicado evitar atividades de alto impacto por 60 dias e as de baixo impacto por um mês.
A hérnia inguinal pode ocorrer novamente se a causa não for identificada e tratada. O problema é silencioso e apresenta sintomas quando exige intervenção médica.
Por isso, é essencial incentivar e facilitar cada vez mais o uso de EPIs, o acesso à assistência médica, a boa alimentação, a prática de atividades física assistida em espaços adequados e o combate ao tabagismo. Caso contrário, a doença continuará a afastar profissionais de suas atividades laborais, prejudicando rotinas e o mercado de trabalho.
* Margareth Fernandes é cirurgiã e diretora do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), em São Paulo