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José Vicente

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Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
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Somos todos o Coronel

Evanilson de Souza sofreu ataques racistas enquanto falava sobre o programa de combate ao racismo que desenvolve na PM de São Paulo

Por José Vicente
Atualizado em 12 fev 2021, 19h24 - Publicado em 12 fev 2021, 19h12
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  • O tenente-coronel Evanílson Souza, profissional de polícia negro, da Polícia Militar do Estado de São Paulo, além de ser um homem de sorte, sempre fez a coisa certa. Sorte porque nasceu numa família que colocou a educação como dimensão inegociável nas prioridades da formação sua e demais irmãos, sorte porque compreendeu de forma peremptória que somente o conhecimento liberta e permite tornar reais sonhos e ambições.

    A coisa certa ficou por conta da crença de que a dedicação, a disciplina e o trabalho sério e correto, removem montanhas. E, que, por conta disso, competir-lhe-ia tão somente, traçar o destino, definir o alvo e obstinadamente lançar-se ao mar, ainda que estivesse diante de um obstáculo quase intransponível: ser oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

    Certamente, foram essas duas coisas juntas que mantiveram acessa a chama da esperança e não o amedrontaram ao longo do caminho. Numa das carreiras mais difíceis de acesso aos negros da administração superior pública paulista e numa instituição pública e severamente questionada em razão do tratamento desrespeitoso e violento que, em regra, disponibiliza aos negros, querer e manter-se firme nesse propósito, certamente, foi antes de tudo um ato de resistência e coragem.

    Com extraordinária folha corrida prestada à instituição, irretocável formação acadêmica, e sendo um comandante de batalhão, isto é, policial de rua, fosse pela sua experiência policial, fosse pela sua qualidade de homem negro, era a pessoa certa para conduzir a remodelação do novo manual de conduta da Polícia Militar, que pretende, justamente, construir as trincheiras de sufocamento e eliminação da discriminação e do racismo contra os negros, e, da mesma forma, endereçar uma ação policial fundada no respeito e dignidade da pessoa humana numa polícia estruturada e capacitada para servir e proteger a todos. Sem discriminação de raça, sem privilégio de classe.

    Por todos esses fundamentos, numa sociedade que privilegia o mérito, reconhece o esforço pessoal, destaca o valor da obstinação na realização de projetos e propósitos e prestigia a capacidade de servir de forma cooperativa e devotada, uma trajetória brilhante dessa natureza, além do respeito e reverência precisa, necessariamente, estar a salvo de qualquer possibilidade de mácula e hostilização.

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    Ser agredido racialmente, no templo do conhecimento, que é a Universidade de São Paulo, quando, justamente se dispôs e se propôs a debater e discutir o trabalho de forma transparente e propositiva com o universo acadêmico que tradicionalmente tem virado as costas tanto para a segurança pública quanto para o racismo, desafia a sociedade, desafia as instituições e convida todos nós para revisitarmos nossa capacidade de tolerância para debater as ideias e respeitar verdadeiramente a dignidade da pessoa humana, das pessoas comuns e dos nossos policiais.

    Um oficial da Polícia Militar é um profissional preparado para grandes pressões e talhado para controlar e equilibrar as emoções. Mas esse é o tipo de agressão que golpeia a alma e fragiliza o individuo. Pretende tirar o brilho de uma trajetória vitoriosa construída pela dedicação e trabalho, e pretende destruir na sociedade e instituições, a ambição e a fé de mudar o mundo a nossa volta e tornar realidade o sonho em cada um de nós.

    Se for certo que o boletim de ocorrência de crime racial lavrado em seguida devolve o sentimento e a confiança na sociedade e na justiça, mas certo ainda é que, pessoalmente, o gosto amargo da impotência e a dor solitária dessa brutal agressão restarão inesquecíveis. Deixarão um vazio no peito e abrirão uma chaga irreconciliável no coração.

    Mas essa é também uma dor que precisa ser coletiva, pois atinge e agride cada um de nós. Nos pega desprevenidos e coloca a dúvida onde mais tínhamos esperança da salvação. Para que não haja dúvidas de que lado estamos e para a aflição dos habitantes desse lado escuro da lua, façamos nossa suas sábias e equilibradas palavras: a luta continua. E eu licenciosamente acrescento, essa luta é nossa: Somos todos, o Coronel.

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