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José Vicente

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Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
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Por que Lula é o presidente mais negro da história do Brasil

A confusão no discurso sobre escravidão em Cabo Verde não pode apagar o que o petista já fez para combater o racismo

Por José Vicente
Atualizado em 14 Maio 2024, 00h07 - Publicado em 24 jul 2023, 10h47
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  • A polêmica estabelecida com as falas do presidente Lula quando visitava o país de Cabo Verde e afirmou por lá que o Brasil tinha profunda gratidão ao continente africano por tudo que foi produzido durante os 350 anos de escravização no Brasil, além da compreensível confusão no uso das palavras, principalmente quando se escolhe falas de improviso, aponta também uma oportunidade de revisitar aspectos importantes da atitude e da condução do nosso país em relação aos países africanos, a escravidão e mesmo aos negros no nosso país.
    Preferindo fortalecer a identidade ocidental de seus conquistadores e recusando considerar e acolher sua realidade miscigenada, o Brasil primeiro pela necessidade de robustecer sua gênese ocidental e supostamente superior da branquitude e depois para garantir o acesso e permanência dos recursos econômicos, financeiros e tecnológicos, construiu e ampliou seus vínculos principalmente com Estados Unidos e Europa, deles transformando-se em devedor de subordinação política, econômica e comercial. Sem contar a submissão cultural e ideológica, traduzida na máxima: o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.
    Junto com a tentativa de expiar seu defeito da cor negra que alcançou inclusive a inscrição e regulamentação da eugenia na sua constituição republicana, as relações do Brasil com os países africanos, sejam aqueles de onde proveio a maioria dos negros escravizados ou naqueles reunidos naqueles da comunidade dos países africanos de língua portuguesa, foi sempre de indiferença, distanciamento e mesmo preconceito. Tradicionalmente, sempre foram insignificantes as relações e construções politicas e sociais com esses países, e também sempre foram apagadas, enclausuradas e discriminadas as contribuições históricas e culturais como, por exemplo, o samba, a capoeira e a religião de matriz africana.
    Foi com o presidente Lula que pela primeira vez na história do Brasil os países africanos entraram no radar politico e estratégico de profundidade e tiveram um fortalecimento das relações politicas, econômicas e comerciais. Com a estruturação da relação sul sul que institui a integração comercial com os países africanos e ampliação do bloco comercial do Mercosul , nunca antes foram abertas tantas embaixadas brasileiras e nunca antes se instalaram tantas empresas brasileiras no solo africano. Nunca antes havia se alcançado o grau de trocas comerciais entre esses países, e nunca os bancos brasileiros financiaram tanto o desenvolvimento de países africanos.
    Nenhum presidente brasileiro visitou mais a África com missões comerciais e nenhum recebeu mais governantes africanos que o presidente Lula. Foi o presidente Lula o primeiro e único a pedir desculpas oficiais aos países africanos pelos 365 anos de escravização dos filhos da África, e foi o presidente Lula que criou a Unilab – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afrobrasileira, sediada em Redenção, Ceará para formar as elites dirigentes da Àfrica.
    No Brasil, foi o governo do presidente Lula que criou o primeiro ministério da igualdade racial do país e o primeiro a nomear permanentemente ministros e embaixadores negros. Foi Lula que sancionou a lei que estabelece a história do negro e da África nos currículos escolares, as cotas para negros nas universidades e foi Lula a nomear o primeiro negro para o Supremo Tribunal Federal. E, depois, com seu apoio a criação de cotas para negros nos concursos públicos de juízes, promotores, oficiais das forças armadas, embaixadores e funcionalismo de estatal. Foi Lula quem sancionou o Estatuto da Igualdade Racial a primeira lei a regular integralmente o combate ao racismo e a promoção das ações afirmativas a favor dos negros.
    Mesmo agora, na sua volta pela terceira vez à presidência, Lula foi único a participar do velório do negro Pelé, o primeiro a nomear cinco ministros negros. Foi o primeiro a nomear um diretor negro para o banco central, a primeira presidenta negra de uma empresa pública no banco do Brasil, a instituir assessorias da diversidade em todos os ministérios e estipular o percentual de 30% de negros em cargos comissionados da administração pública até 2030.
    Ainda em 2008, na formatura da primeira turma da Universidade Zumbi dos Palmares, Lula convidado como patrono compareceu com sua esposa e dez ministros. Discursou pela primeira vez na sua vida depois da meia noite e em lágrimas disse para aqueles jovens negros brasileiros que eles eram a esperança e orgulho do país, e que estava feliz por ter vivido para assistir aquela linda cena de libertação. Nenhum outro dirigente brasileiro fez tanto pela Àfrica e pelos negros brasileiros. Lula inevitavelmente é o mais africano e o mais negro presidente negro do Brasil.

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